Por Maria Teresa Serman
Êta negócio enganador este, o amor. Vem embrulhado em papel colorido e brilhante, com esmero e primor, sem que se possa saber o conteúdo, ficamos mais na base do suspense, adivinhação, esperança. O embrulho vai se desfazendo lentamente, deixando entrever o interior bem devagarzinho, só pelos contornos, atraentes mas difusos. Não dá pra ter certeza plena do que nos aguarda. Somos sempre crianças inocentes diante de presente tão especial.
Quando começamos a ficar mais íntimos, achando que já somos donos, ele nos escapa. Como uma bola ou um carrinho à pilha, liberta-se de nossas mãos e assume vida própria. Porque assim é o Amor, ele tem vida própria, sabe ser ele mesmo. O verdadeiro amor nos suplanta, nos exige e transforma, arranca de nós o que podemos ser. É um constante vir-a-ser. Nisto reside seu encanto e sua melhor virtude. Por isso é tão raro, por ser mais exigente do que tudo.
Não é possível ensinar a reconhecer O grande amor. Ele não é, nós O faremos. Claro que se precisa de dois seres basicamente compatíveis - não iguais, não tão opostos, com objetivos de vida comuns - para começar. “O nosso amor a gente inventa", sugeria o Cazuza. Inventa diariamente e nunca mais para. No que muitos encontram dificuldade e trabalho, e por isso desistem antes de construí-lo como pode ser, aí é que poucos, os afortunados persistentes ou teimosos felizardos, como preferirem, descobrem e perseguem seus encantos. Porque é perdendo que encontramos, e alguém muito sábio já disse isso com palavras semelhantes.
Parodiando o poetinha, diria que, para viver um grande amor é preciso ser dele de corpo e alma, não de vários. Essa dedicação e o enlevo que dele extraímos será diretamente proporcional `a motivação que arrancamos do fundo de nós mesmos e lhe entregamos de graça, sem exigências de orgulho ou vaidade. Haverá altos e baixos, períodos de secura afetiva alternados com paixão profunda, porque assim somos nós, pessoas comuns. Não se vive da paixão, ela é apenas um dos compostos, e nem o mais importante, do amor. Este lhe é infinitamente superior.
Como saber se é um grande amor? Só se sabe depois de bastante tempo, tempo em que se plantou e colheu, tempo que continua nos testando, nos desafiando, nos seduzindo. Só quem se deixa aprisionar pelo verdadeiro amor sabe reconhecê-lo, embora muitos ouçam uma voz de sereia que os chama para as profundezas do vazio, da auto-satisfação, do espelho de Narciso. Assim não se reconhece O grande amor, pois ele não existe então.
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
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2 comentários:
Amor vem do alto. É preciso vivê-lo como uma presença de Deus em nossas vidas, um presente. Deus nos quer infinitamente bem. Ele escolhe os amantes que serão vocacionados um para o outro e ambos para Ele.
Compreender o que é o amor de verdade nos torna mais carinhosos e pacientes, uma vez que nossos desafios cotidianos (que muitas vezes são dificuldades enormes para os casais) são apenas costumes que se tornam pó e cinzas no plano da eternidade.
Não devemos nos preocupar com angústias e irritações. Isso são tapeações. É preciso se ocupar com o amar. Assim, fazemos da vida o que ela deve ser. Aí é que está o tesouro. O resto importa muito pouco.
Muito correto Rafael, mas é preciso levar este amor a plenitude através do CASAMENTO.
Nada melhor que o casamento para tornar mais verdadeiro e real este amor divino refletido em cada um dos amantes. Ou melhor, dos que se amam.
O maior tesouro é encontrar a pessoa amada e fazer dela o amor de toda a vida.
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