Pelo meu lado fico estupefato que os laicos deixem aos crentes o privilégio e a honra de afirmar que não se deve matar”
Norberto Bobbio (1909-2004), filósofo político agnóstico, laicista e de esquerda* * *

O discurso a respeito do mal do aborto foi inicialmente levantado pela Igreja Católica e se encontra, atualmente, muito amparado por outras religiões. Deste modo, os abortistas, recorrendo à ideia de estado laico, dizem que a fé religiosa não deve influenciar a legislação. Mas o problema é que atentar para o que seja uma origem da vida, nos dias de hoje, demanda um conhecimento que já é alheio a dogmas ou a postulados de fé.
Hoje, acreditar que um embrião é um indivíduo com direitos demanda uma postura de conhecimento diferente daquela em que acreditamos, por exemplo, na Imaculada Concepção de Maria ou na Ressurreição de Jesus Cristo. O desenvolvimento técnico nos possibilita saber que existe no embrião toda a informação genética do indivíduo, como também nos permite visualizar, pelas ultrassonografias, uma pequena criança que vive no ventre materno desde as primeiras semanas de vida.
A causa a favor da vida também é um convite que se estende às pessoas que não têm fé religiosa. O exemplo do filósofo Norberto Bobbio, homem de esquerda e agnóstico, é interessante. Em 1981, num referendo que ocorreu na Itália, Bobbio se manifestou contrário ao aborto. Abaixo, trechos de uma entrevista dele ao jornal italiano Corriere

«Antes de mais, o direito fundamental do concebido, aquele direito a nascer sobre o qual, no meu entender, não se pode transigir. É o mesmo direito em nome do qual sou contrário à pena de morte. Pode falar-se de despenalização do aborto, mas não se pode ser moralmente indiferente perante o aborto».
«Diz Stuart Mill: “Sobre si mesmo, a sua mente e o seu corpo, o indivíduo é soberano”. Agora, as feministas dizem: “No meu corpo mando eu”. Pareceria uma perfeita aplicação deste princípio. Eu, pelo contrário, digo que é aberrante que abranja o aborto. O indivíduo é uno, singular. No caso do aborto há um “outro” no corpo da mulher. O suicida dispõe apenas da sua vida. Com o aborto está-se a dispor da vida de um outro».
3 comentários:
Você argumentou com muita propriedade e argúcia, Rafael. Essa conversa de "no meu corpo mando eu" só serve para justificar o aborto. Quando é pra "mandar" no próprio corpo de modo a agir corretamente, aí os instintos é que mandam. O sr. Bobbio está corretíssimo,tudo está dentro do respeito à vida.
Ser contra o aborto é ter fé na Ciência, pois é ela que comprova a vida na fecundação!
Perfeito João.
Só não vê quem não quer.
E como disse a MT: só pensam que mandam no corpo nestas horas, mas quando é deixar o corpo como mercadoria de açougue não têm este sentido de propriedade.
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