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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Vida de Infância

"Esta vida de infância é possível quando temos plena consciência da nossa condição de filhos de Deus. O mistério da filiação divina, fundamento da nossa vida espiritual, é uma das consequências da Redenção. Nós somos já agora filhos de Deus8, e é muito importante que nos apercebamos desta realidade maravilhosa, para podermos tratar a Deus com espírito filial, de bons filhos.

A adoção divina implica uma transformação que ultrapassa de longe a simples adoção humana: “Por meio do dom da graça, Deus torna o homem que adota idôneo para receber a herança celestial; o homem, pelo contrário, não torna idôneo aquele que adota, mas escolhe para adotar aquele que já era idôneo”9. Procuremos ser dignos de tal herança e ter para com Deus uma piedade filial, terna e sincera.

O caminho da infância espiritual leva a uma confiança sem limites em Deus nosso Pai. Numa família, o pai interpreta para o filho pequeno o mundo exterior. Numa família, o menino sente-se fraco, mas sabe que seu pai o defenderá e por isso vive e caminha confiante. Numa família, a criança sabe que junto de seu pai nada lhe pode faltar, nada de mau lhe pode acontecer. Numa família, a alma e a mente da criança estão abertas sem preconceitos nem receios à voz de seu pai, pois sabe que, ainda que tenham zombado dela, quando seu pai chega a casa, nunca se ri dela, porque a compreende.

As crianças não se interessam em averiguar se estão ou não caindo no ridículo, coisa que no adulto paralisa tantos empreendimentos; nem têm esses temores e falsos respeitos humanos que são gerados pela soberba e pela preocupação de saber “o que dirão”.

A criança cai com frequência, mas levanta-se com prontidão e ligeireza; quando se vive vida de infância, as próprias quedas e fraquezas são meio de santificação. O amor de uma criança é sempre jovem, porque esquece com facilidade as experiências negativas; não as armazena no seu interior, como faz quem tem alma de adulto. “Chamam-se crianças – comenta São João Crisóstomo – não pela sua idade, mas pela simplicidade do seu coração”10.

A simplicidade é talvez a virtude que resume e coordena as demais facetas desta vida de infância que o Senhor nos pede. Devemos ser – diz São Jerônimo – “como a criança que vos proponho como exemplo: ela não pensa uma coisa e diz outra; assim deveis atuar vós também, porque, se não tiverdes essa inocência e pureza de intenção, não podereis entrar no Reino dos céus”11.

Consequência da vida de infância é a docilidade. “Menino: o abandono exige docilidade”12. Segundo a etimologia, é dócil quem está disposto a ser ensinado; e assim deve ser o cristão perante os mistérios de Deus e das coisas que se referem a Deus: sabe que não passa de um principiante, e por isso tem a alma aberta, sempre desejosa de conhecer a verdade e de formar-se. Quem tem alma de adulto dá por sabidas muitas coisas que na realidade desconhece; julga saber, mas ficou nas aparências, sem aprofundar nesse outro tipo de saber que influi imediatamente na conduta. Quando Deus o olha, vê-o cheio de ignorância e fechado ao verdadeiro conhecimento.

Como seria maravilhoso se um dia, crianças por fim, aprendêssemos coisas tão corriqueiras para um cristão como rezar bem o Pai-Nosso, ou participar verdadeiramente na Santa Missa, ou santificar o trabalho de cada dia, ou ver nas pessoas que nos rodeiam almas que devem ser salvas, ou... tantas coisas que damos por sabidas com demasiada frequência!

Aprendamos a ser crianças diante de Deus. Mas lembremo-nos de que o aprendemos no convívio com Maria. “Porque Maria é Mãe, a sua devoção nos ensina a ser filhos: a amar deveras, sem medida; a ser simples, sem essas complicações que nascem do egoísmo de pensarmos só em nós; a estar alegres, sabendo que nada pode destruir a nossa esperança. O princípio do caminho que leva à loucura do amor de Deus é um amor confiado a Maria Santíssima”13."

Citações: (8) 1 Jo 3, 2; (9) São Tomás, Suma Teológica, 3, q. 23, a.
1, c.; (10) São João Crisóstomo, em Catena Aurea, vol. III, pág. 20;
(11) São Jerônimo, Comentário ao Evangelho de São Mateus, 3, 18, 4;
(12) Bem-aventurado Josemaría Escrivá, Caminho, n. 871; (13)
Bem-aventurado Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 143.

Retirado da mesma fonte.

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