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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A Epifania do Senhor


Renascer e continuar, começar e seguir. No campo material, inércia é não mudar: não mexer no que está quieto, não parar o que se move. Porém, no espiritual, seguir e continuar nunca é inércia. Voltemos ao mesmo, sempre ao mesmo: Deus conosco, Jesus menino: e nós, guiados pelos Anjos, indo adorar o Menino Deus, que Maria e José nos mostram. Por todos os séculos, de todos os confins do orbe, carregados e animados pelo trabalho de todas as atividades humanas, irão chegando magos ao perene presépio do Sacrário. Cuida e trabalha, preparando tua oferenda – teu labor, teu dever – para esta Epifania de todos os dias “[1].

A adoração dos Magos, o Batismo do Senhor, as bodas de Caná: três manifestações da divindade do Verbo encarnado, três epifanias que estão localizadas no tempo mas têm sabor de eternidade, porque Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e sempre[2].

São Josemaria une o mistério da adoração dos Magos ao nosso trabalho profissional. Relaciona o alcance eterno daquela oferenda com a dimensão divina que podem adquirir nossas ocupações cotidianas.

Nós somos, também, de algum modo, aqueles magos que, guiados pela estrela da vocação, nos aproximamos de Belém, nos tempos atuais, desde todos os confins do orbe. Os Magos, que não são membros do povo hebreu, mas gentios, anunciam essa grande convocação que será a Igreja, Povo de Deus. Vinham do Oriente, de além do Jordão. Herodes perguntava onde estava o Rei dos judeus. Os príncipes dos sacerdotes e os escribas sabiam que o Messias devia nascer em Belém[3], mas não se deram ao trabalho de ir saudá-lo. Herodes se inquieta e toda a Jerusalém com ele[4]; entretanto, somente esses estrangeiros fazem a viagem. Amar é mais que conhecer, o saber não basta para chegar a Jesus.

Quarenta dias depois do nascimento, quando o divino Menino havia sido apresentado no Templo, o velho Simeão proclamava a Salvação dos povos e profetizava sobre quem ia ser luz para iluminar os gentios e glória de Israel[5]. Luz divina para todas as nações e, por isso mesmo, glória de Israel.

Os pastores – hebreus – e os Magos – pagãos – são os primeiros de uma multidão onde já não haverá mais diferença entre judeu e grego, entre escravo e livre, entre homem e mulher[6]. Com os Magos, começa a se cumprir a profecia de Simeão para os gentios. Nós, séculos depois, formamos também parte desse Povo convocado na Nova Aliança. “Um povo, formado por judeus e gentios, que se reunira em unidade, não segundo a carne, mas no Espírito, e constituísse um novo Povo de Deus”[7]. O pão das ovelhas perdidas da casa de Israel se faz pão para todos[8].

Os Magos levam ouro, incenso e mirra. E nós, o que levamos para o Menino Jesus? Nós vamos a Belém carregados e animados pelo trabalho de todas as atividades humanas.

Carregados, porque o trabalho duro, contínuo, exigente é, para nós, peso. O trabalho, sempre vocação do homem, com o pecado, tornou-se esforço, luta e dor. Com a desobediência, veio a morte; morte que Cristo quis também padecer. Nós, como os Magos, trazemos mirra. Como Nicodemos, levaremos uma mistura de mirra e de aloés aos pés da Cruz, tomaremos seu Corpo e o envolveremos em lençóis, com os melhores aromas que possamos encontrar [9]: mirra da abnegação por amor a Cristo e às almas, de amor à Cruz no trabalho de cada dia, ainda que custe e porque custa. Nosso trabalho, participação nos sofrimentos de Cristo, é também bálsamo para curar, para limpar e aliviar as tremendas feridas que abrimos com nossos pecados em sua Santíssima Humanidade. Nada faltou à Paixão de Jesus para nos salvar, mas, para que seus méritos nos sejam aplicados, devemos completar em nossa carne aquilo que falta aos sofrimentos de Cristo em favor de seu Corpo que é a
Igreja[10]. Alegria de participar nos sofrimentos da Cruz para que Cristo se forme em cada membro de seu Corpo Místico: afã de almas, amor redentor do cristão. Nossas fadigas servem para a salvação de muitas almas.

Onde está o Rei dos judeus? –perguntava Herodes. Aonde iremos, carregados com nosso trabalho? Iremos ao perene presépio do Sacrário. Ali, como fruto da Missa – trabalho de Deus –, como fruto da Cruz, Ele está substancialmente presente.

O Pão da Vida, Pão descido do Céu, Pão para a vida do mundo[11], está nos esperando agora no presépio do Sacrário, onde há mais humildade, mais aniquilamento do que na manjedoura e do que no Calvário. Os Reis Magos encontraram Jesus em Bêt-lehem, que significa casa do pão. O grão de trigo, que morrendo dará muito fruto, jaz sobre um pouco de palha[12]. Vamos a Belém com o ouro do desprendimento dos êxitos e dos fracassos, com o incenso dos desejos de servir e de compreender – caridade, pureza: bom odor de Cristo – e a mirra do sacrifício de cada dia[13].

[1] Cfr. São Josemaria Escrivá de Balaguer, Caminho, edição
crítico-histórica, preparada por Pedro Rodríguez, 3ª ed. Rialp, Madrid
2004, pág. 1051 (comentário ao ponto 998).
[2] Cfr. Hb 13, 8. [3] Cfr. Mi 5, 1-3. [4] Cfr. Mt 2, 4-6. [5] Lc 2, 34. [6] Cfr. Gal 3, 28.
[7] Concílio Vaticano II, Const. dogm. Lumen Gentium, n. 9.
[8] Cfr. Mt 15, 24-28. [9] Cfr. Jo 19, 39. [10] Cfr. Col 1, 24. [11] Cfr. Jo 6, 35,41,51.
[12] Cfr. João Paulo II, Mensagem do Santo Padre para a XX Jornada
Mundial da Juventude (Colônia, agosto 2005), 26-VIII-2004, n. 3
[13] Cfr. É Cristo que passa, nn. 35-37.

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