Um programa que não pode faltar em nossas férias é a visita a algum museu. Gostamos de museus. Neste ano fomos ao Museu de Astronomia, em São Cristóvão e ao Museu do Índio, em Botafogo. O Museu do Índio é nosso velho conhecido, uma vez que moramos bem perto dele. Meus filhos e netos brincaram lá muitas vezes.
O Museu tem um bonito jardim, uma boa biblioteca, um rico acervo, salas interativas, uma lojinha com objetos de artesanato e uma interessante programação cultural durante o ano letivo.
Eu, pessoalmente, gostava mais do Museu quando era mais simples, mais rústico. Havia três diferentes tipos de ocas no jardim, construídas por índios e o cheirinho da palha e da poeira no chão davam ao lugar um ar de “verdade”. Eu conseguia fechar os olhos e me ver numa taba com bebês índios nos bercinhos presos nas vigas da grande oca. Nos tachos no chão, eu via a mandioca moída ... . Hoje a tecnologia tomou conta do museu. Está muito bom, mas perdeu seu ar de “verdade”.Que pena!
O Museu de Astronomia foi uma descoberta. É muito fácil chegar lá. Fica no alto de uma ladeira bem em frente à Feira de São Cristóvão. Também fica no centro de um jardim que eles chamam de Campus. É ali que estão os grandes telescópios e o segundo maior meteorito que já caiu no Brasil. Vale a pena conferir.
O prédio do museu deve datar do início do século passado. É imponente com suas largas escadarias e grossas paredes de pedra. Dentro dele, estão um sem número de interessantes instrumentos que já serviram para vasculhar o universo.
Não falta ,também, uma interessante sala interativa para a garotada experimentar o que aprende nos livros sobre astros, estrelas, estações do ano, climas, dias e noites ... E, surpreendentemente, está tudo muito bem conservado, bem cuidado. Reparei até nas delicadas cortinas nas janelas e no cheirinho limpo e lustrado dos móveis que guardam os preciosos instrumentos. A entrada é gratuita.
Para acompanhar nosso assunto de hoje, trago uma das mais bonitas lendas da Amazônia. Talvez a mais bela de todas.
A lenda da Vitória-régia
Regozijava em festas a aldeia dos maués. Ao som de torés, maracás e outros instrumentos musicais, os guerreiros dançavam ao centro da taba iluminada de archotes, que queimavam as mais perfumadas rezinas.
Mulheres serviam as bebidas caxiri, cauim e carne moqueada.
A razão de tanta alegria era a celebração de uma caçada feliz.
O cacique Canuqué reuniu tribos vizinhas e amigas para festejarem o acontecimento.
No meio de tanto divertimento, apenas a bela Nacaíra, filha do cacique, se sentia triste e solitária. Sempre fora disputada pelos mais formosos e destemidos guerreiros, mas a nenhum deles dava o menor olhar ou gesto de esperança. Seu coração puro não pertencia a homens que penduravam no pescoço dentes de inimigos mortos em batalhas, numa atitude de bravura e heroísmo.
Quando pequenina, Nacaíra gostava de ouvir as histórias de Janá, velha feiticeira, que conhecia os poderes misteriosos das plantas, a origem dos rios, a das serras, e sabia os nomes de muitas estrelas do céu. Contara-lhe uma vez Janá que a Lua era um guerreiro branco, belo e poderoso. Nas noites de luar descia à Terra para se casar com uma jovem; depois a levava para o céu, transformando-a em brilhante estrela.
Nacaíra ouvia em silêncio, olhinhos presos no espaço infinito.
“ Como seria bom viver lá no alto, transformada em estrelinha e olhar a terra pequenina e distante ...
As palavras da velha Janá ficaram na mente de Nacaíra, que, mesmo depois de jovem e dotada de surpreendente beleza, jamais se interessou pelos moços da aldeia ou de outras tribos.
Nas noites de luar, saía pelas matas fitando o céu, braços erguidos como a querer alcançar o guerreiro bem-amado. Naquela noite de festas, ela deixou as danças e cantos, as custosas bebidas e cheirosos assados e pôs-se a caminhar pela floresta.
No meio do céu a Lua brilhava tranquila. Tudo era sossego. Apenas o vento, que brincava nas árvores, trazia o rumor distante das danças e cantos da taba. Lá longe, no azul sem-fim, as estrelas eram como tochinhas brilhando serenas. Nacaíra encaminhou-se para a lagoa. Viu refletida nas águas a imagem querida da Lua. Boiava de mansinho como se dela se aproximasse sempre mais. Pensando no jovem branco que , por certo, vinha buscá-la, Nacaíra correu ao seu encontro, atirando-se nas águas profundas.
Ninguém mais viu a jovem a bela princesa dos maués. Mas o luar, única testemunha daquela cena, se condoeu da infeliz indiazinha; em vez de transformá-la em estrela do céu, transformou-a em Estrela das Águas.
No dia seguinte, quando os maués andaram em busca de Nacaíra, encontraram no lago uma flor de radiante beleza, de um suave tom rosa pálido e de perfume delicado, semelhante ao do fruto maduro. Era a Vitória-Régia, que desde então passou a enfeitar a superfície dos grandes lagos e rios.
E contam que, nas noites de luar, ela abre de mansinho as suas pétalas acetinadas para receber a luz e carícias da Lua. ( Em Diversões Escolares Ano II – número 13 Setembro de 1961 Ed. Abril)
Por Agnes G. Milley
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