logo

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Para quem fica...


Quando uma parte do casal resolve viver a própria vida exclusivamente como deseja, do seu modo individual, rompendo os laços, não só do par, mas da família como um todo, desmorona tudo para quem fica em casa. Digo tudo porque, além do seu sofrimento pessoal, da dor da distância, do silêncio, da falta de quem desaparece da casa, da cama, da mesa, tem que presenciar, mais, muito mais do que isso, VIVENCIAR, na carne, a dor dos filhos, a sua revolta, mágoa, decepção.

O equilíbrio que pai e mãe, de temperamentos e visões saudavelmente diferenciados, estabeleciam cotidianamente se torna instável, precário. E quem permanece vê isso nas relações com os filhos, principalmente se são pequenos, ou se ainda moram na casa. O caos emocional se instala, contra o qual o remanescente luta, tentando achar um ponto de resistência em si mesmo, uma força que só pode ser de origem divina, assim como o é a sabedoria para calar, para falar, para fazer tudo e nada.

A metade que não abandonou o lar precisa lutar contra essa desestruturação, essa ruptura, tentando conciliar o que lhe resta de são com o natural estranhamento inconsolável que sente dentro de si. Quem sai não vê, não pressente a tormenta frequente se avizinhando, pelos tons de voz alterados, pelos olhares raivosos, e até pelas reações ameaçadores da paz precária que resta. Quem joga a toalha, joga-a sobre seus olhos e coração também, pois, não diz o ditado que o quê os olhos não veem o coração não sente?

Não se trata de dois virarem um; não, não existe mais um inteiro, só (re)partido em mil cacos, que insiste - até mais pelos filhos do que por si mesmo - em juntar, formando um quebra-cabeças grotesco, desencontrado, sem sentido. Gostaria ele mesmo, ou ela mesma, de ir para Pasárgada, Transilvânia, Terra do Nunca, mas não dá. Alguém tem que prestar atenção à sua consciência, tomar conta dos que ama, continuar a vida. E não adianta perder tempo remoendo como isso é injusto e fatal para o desenvolvimento emocional e espiritual dos filhos e para a continuidade - do quê mesmo??? - da normalidade a que uma família tem direito.

Todos e cada um tem uma receita e um (VÁRIOS!) conselho, cada qual mais descabido e distante do real de agora, mesmo que com as famigeradas boas intenções. Há que agradecer, ser humilde, paciente, cego, surdo, mudo, esquizofrênico, louco de carteirinha mesmo, para aguentar tanta pressão, interior, interna, externa, afetiva, moral, espiritual, física - porque quando o coração adoece o corpo inteiro padece. A dor emocional se torna mais física que fratura exposta. Mas, fazer o quê, não é assim que a banda toca? Só não dá pra cantar a música do Chico, ver a banda passar sem agir. E só Deus, unicamente Ele, para ensinar como fazer.

Por Maria Carolina Fernandes –  psicóloga e mestre em terapia de casais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário