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sexta-feira, 27 de julho de 2012

Amigo não nasce pronto

Por Maria Teresa Serman

No começo da vida de uma criança, é preciso que os pais e seus cuidadores, babás, avós, parentes, lhe ensinem a se socializar. Isso inclui as "palavrinhas mágicas", desde que aprende a falar, e a ceder um brinquedo ou como pedir emprestado o do amigo. Respeitar o outro, até chegar a amá-lo , é um caminho em que os pequenos devem ser levados por mãos carinhosas mas firmes, pois o ser humano, por mais doce que seja o seu temperamento, conserva o egocentrismo sempre latente, pronto para dominá-lo. É a luta de uma vida, que, se iniciada bem cedo, facilita o relacionamento desses pequenos seres com o mundo, tornando-os aptos para reconhecer o próximo como alguém criado a mesma imagem e semelhança de Deus que eles.

"Quem encontra um amigo encontra um tesouro", diz a Bíblia. Esse "encontro" pressupõe atitudes fraternas de ambas as partes, embora, em certas épocas, uns deem mais de si do que os outros, é normal. Depois a balança se equilibra. Importante também é esclarecer que alguns colegas podem se tornar amigos às vezes para toda a vida, mas nem todos, por afinidade ou circunstâncias. E, de novo o nosso "mantra": não adianta querer que seus(suas)  filhos(as) sejam sociáveis se você é fechado em si mesmo e se nega a uma convivência generosa e aberta, porque o exemplo de amizade fiel dos pais mostra naturalmente como é importante conservar as próprias.

Porém, cuidado. Não se pode transformar uma criança introvertida e até tímida em estrela da festa. Não force, incentive. Se ela ou ele demonstra algumas preferências, chame estes para sua casa, onde se sentirão mais à vontade, ou leve-os para passear, deixando que eles escolham quem preferem convidar, desde que com a sua aprovação. Não os ensinem a julgar as pessoas, mas a perceber aqueles que têm valores em comum com sua família.

Há fases distintas nessa aprendizagem: até os 3 anos, os pequerruchos são bastante centrados em si mesmo, e não gostam de ceder fácil e compartilhar espaço e bens pessoais. É a hora de evitar birras e choros e convencê-los a dividir, enfatizando a alegria que brincar em conjunto traz.  Na idade escolar, a percepção dos grupos sociais é bem clara já, e a tendência são os "clubes do Bolinha e da Luluzinha". Então vamos incentivar a negociação e a argumentação, que, novamente, começa em casa. Um erro que traz consequências graves para a vida adulta é os pais darem sempre razão aos seus filhos, não admitirem que eles sejam contrariados e que os professores, principalmente, os corrijam. Isso nada mais é que projetar sua soberba nos filhos, como se eles fossem prorrogações suas, e não indivíduos. O resultado é o que vemos por aí com lamentável frequência: pessoas egoístas, que não reconhecem seus defeitos e que, portanto, não tentam melhorar, sempre com a ideia errônea de que "eu sou assim, tem que me aturar".

Se os tímidos se recusarem a conviver, ou ficarem ansiosos com as tentativas familiares de interação, é o momento de procurar apoio ou ajuda de um profissional competente, evitando assim problemas futuros, mais difíceis de resolver. Não tenham medo de levar as crianças e jovens a psicólogos, neurologista e psiquiatras. O conceito de que só "malucos" necessitam dessa assistência está completamente obsoleto, além de sempre ter sido uma visão preconceituosa e ignorante. A saúde familiar depende muito dos relacionamentos de amizade externos também, pois esses se projetarão no amor e companheirismo de que um lar necessita.

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