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terça-feira, 19 de julho de 2011

Cultivar desculpas

Por Rafael Carneiro Rocha

Queremos que os outros reconheçam seus erros e nos peçam desculpas. Quando assim nos sentimos, pode significar que nossos corações sejam, de alguma maneira, justos. Então, nós, os justos, correremos o sério risco do desapontamento se o outro lado mantiver uma completa indiferença para com a nossa sede de reparação. Mas como é possível que fulano seja tão orgulhoso, perguntamo-nos.

Pode ser que num dado problema, estejamos 100% corretos e o outro lado esteja absurdamente errado. Geralmente, quando queremos ouvir um pedido de desculpas, nos sentimos muito ou inteiramente injustiçados. Partamos dessa situação. Porém, como estamos diante de uma pessoa orgulhosa, eu vou propor o seguinte exercício. Não existe diferença prática entre 99,9% e 100%. Então, quando quisermos ouvir um pedido de reparação, antes desse desejo, vamos afirmar para os nossos corações que estamos 99,9% corretos.

O problema é que somos pessoas justas, certo? Então é preciso encaixar o 0,01% de erro nosso em algum lugar, porque senão cairá por terra todo o nosso senso de justiça e de reparação. Então, eu sugiro que o nosso erro seja encontrado justamente na inquietação que sentimos. Se desejamos tanto um pedido de desculpas ao ponto disso causar uma tensão, que esse sentimento ruim seja verdadeiramente compreendido como uma fraqueza nossa. Se fôssemos muito purificados espiritualmente, não desejaríamos tanto assim uma manifestação que nos é alheia. Encararíamos o erro que nos afetou com serenidade e elegância.

Vejamos que o problema, agora, está conosco. Depende simplesmente da nossa vontade a reparação de 0,01% do erro. Esqueçamos que a outra pessoa tem 99,9% de dívida e fixemo-nos na nossa fraqueza, antes de tudo. Uma dica para começar a resolver o problema é que peçamos desculpas ao outro lado, ainda que isso não pareça justo. Do ponto de vista da balança (99,9% versus 0,01%), certamente não é justo, mas como o nosso coração é mais importante que uma aritmética, será mais justo preocupar com o nosso espírito do que com a conta.

Pedir desculpas nunca é uma demonstração de fraqueza ou de rebaixamento. Pelo contrário, é um gesto nobre e que revela grandeza de espírito. Se o mundo não sabe dessa lição, que comecemos a ensiná-la. Peçamos, de coração convicto, desculpas por qualquer coisa e cumpramos nossa parte na reparação dos erros cotidianos. Defendendo com muito carinho a predisposição para o reconhecimento de falhas pessoais, certamente iremos semear mais beleza por aí e vez ou outra seremos imitados.

3 comentários:

Anônimo disse...

Coisa difícil, essa, de pedir desculpas! è fácil recebê-las, mas pedir....

Alice disse...

Adimitir nossos erros é fundamental, principalmente entre marido e mulher. Exercitar esta virtude da humildade e a outra da justiça, é um bom começo para dar certo um matrimônio.

Patricia disse...

Um belo consolo pra quando já exercitamos a nobreza de nos desculparmos, e nem assim o outro aceitá-la, é pensar que se esse outro soubesse o que estará perdendo de bom dentro do próprio coração, viria correndo pedir-nos que aceitássemos as suas desculpas...

Valerá sempre em favor do outro, a frase de Cristo:"Pai, perdôa-lhes porque não sabem o que fazem"...

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