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Victor Hugo - Ed. Cosac Naify, São Paulo, 2002
Resumo: Prof. Paulo Oriente Franciulli

PRIMEIRA PARTE: FANTINE
Em 1815, Jean Valjean aparece em Digne, logo depois de ter sido posto em liberdade. Havia cumprido a pena de dezenove anos nas galés. Recebeu a soma de cento e nove francos e quinze soldos pelos trabalhos forçados. Rejeitado nas hospedarias e na casa de uma família jovem por causa do seu passaporte de ex-grilheta, sem ter onde matar a fome e passar a noite, acaba por bater na casa de D. Bienvenu Myriel, o bispo daquele lugar.
D. Bienvenu hospeda o viajante, dá-lhe de comer e beber, e conversa afetuosamente com ele. No meio da noite, porém, Jean Valjean furta os talheres de prata do anfitrião e foge. Alguns policiais prendem-no poucas horas depois, e o levam de volta à casa do bispo. Este afirma que houve algum equívoco, pois tinha dado os talheres a Jean. Mais: diz-lhes que o viajante se esquecera de levar também os candelabros de prata. O ladrão fica perplexo. Os guardas deixam-no livre. O bispo lhe diz que deve se emendar e recomeçar a vida com a quantia obtida pela venda daqueles objetos.
Ao continuar a viagem, Jean Valjean reflete sobre tamanha bondade, que lhe é incompreensível. A vida sempre havia sido hostil. Quando era um jovem jardineiro e trabalhava duro, ajudando a sustentar os muitos filhos da irmã viúva, foi preso por invadir uma padaria e pegar pão para os sobrinhos, no inverno em que morriam de fome. Condenado a uma pena excessiva, teve-a quase quadruplicada graças às tentativas de evasão. A grande passagem pelas galés o endurecera, a ponto de torná-lo inimigo de todos. De repente, vê-se diante de um senhor que o trata com dignidade, o perdoa, tira-o das garras da polícia e lhe dá os meios para reconstruir sua vida.
Perdido em seus pensamentos, sentado à beira da estrada, não repara na chegada de um garoto saboiano. Uma moeda de prata do menino escorrega na direção do viajante, que automaticamente põe o pé em cima. O pequeno Gervais reclama a devolução da moeda em vão, e Jean o ameaça com seu cajado, para que não o importune mais. O saboiano vai embora chorando.
Quando cai em si, vê a moeda no chão e entende a maldade do seu ato, Jean Valjean se desespera, grita por Gervais, chora as suas misérias. Pode-se dizer que é o momento da sua conversão. Um novo homem surge sob o nome de Madeleine, na cidade de Montreuil-sur-Mer, leva vida austera e exemplar, e prospera como fabricante de vidrilhos pretos, desenvolvendo a cidade e chegando a ser o seu Maire.
Ora, é precisamente para Montreuil-sur-Mer que a jovem Fantine se muda e começa a trabalhar na fábrica de Madeleine, em 1817. Órfã ainda criança, costureira em Paris e amante de Tholomyès, Fantine e outras três amigas – Favourite, Dhalia e Zéphine – foram vítimas de uma peça de mau gosto pregada pelo namorado e seus colegas Listolier, Fameuil e Blachevelle. Fantine tinha uma filha de Tholomyès, a pequena Cosette (Eufrásia), e ambas foram abandonadas pelo estudante.
Sem outro remédio, Fantine volta para a sua Montreuil-sur-Mer natal. No caminho, deixa Cosette com os Thenardieu, casal de estalajadeiros em Montfermeil, pais de Eponine e Azelma, mais ou menos da idade de Cosette, e de Gavroche; mais tarde, nascem-lhes outros dois garotos.
Em Montreuil-sur-Mer, quando Fantine começa a se estruturar para buscar a filha, Madame Victurnien faz uma viagem a Montfermeil e acaba descobrindo a história da filha ilegítima. Isso é suficiente para a demissão de Fantine, que cai cada vez mais, até tornar-se prostituta. Nessas circunstâncias, conhece Madeleine e muda os seus sentimentos com relação a ele – antes, considerava-o culpado pela sua situação lamentável; agora, vê-o como seu salvador. No entanto, as coisas se complicam para ambos, morrendo Fantine e sendo preso Madeleine por obra de Javert, o investigador de Montreuil-sur-Mer e a partir de então eterno perseguidor de Jean Valjean. Desconfiado de que Madeleine na verdade é Jean Valjean, a quem conheceu aquando era guarda nas galés, Javert participa como testemunha do caso Champmathieu, um pobre homem confundido com Jean Valjean. Ele está prestes a ser condenado à morte ou às galés eternas. Madeleine, após grande embate consigo mesmo, decide esclarecer a verdade, e consegue a libertação do réu em troca da sua prisão. Condenado perpetuamente às galés, esconde antes os seiscentos mil francos ganhos com o seu trabalho com os vidrilhos, enterrando-os numa floresta perto de Montfermeil. O autor situa esses fatos cerca de 1821.
SEGUNDA PARTE: COSETTE
Em 1823, Jean Valjean consegue fugir dos grilhões. O navio em que trabalha, a nau Orion, está no porto de Toulon. Um marinheiro se acidenta e fica pendurado na verga, prestes a cair e morrer. Jean pede autorização, livra-se das correntes e socorre o marinheiro. A multidão no cais e os marinheiros, incluindo os guardas, emocionam-se com o gesto heroico. Enquanto volta a seu posto, Jean simula uma tontura e cai no mar. Depois da busca infrutífera do seu corpo, os jornais noticiam a sua morte.
Jean Valjean, que na verdade se escondera num bote e nadara para longe, este de volta à floresta de Montfermeil para resgatar parte do seu dinheiro. Já se faz noite quando encontra Cosette, que está ali para buscar água. A menina é muito maltratada na estalagem dos Thenardieu, e vê em Jean o seu salvador. Este, por sua parte, cumpre a promessa que fez a Fantine, de cuidar da filha.
Resgata-a dos Thenardieu, e vai com ela a um bairro periférico de Paris, onde passa a morar no Pardieiro Gorbeau. A vida ali é idílica para os dois: o homem, que tem pela criança amor de pai; a menina, que pela primeira vez não tem de trabalhar como escrava. Contudo, Javert, agora na polícia de Paris, reconhece Jean Valjean e o persegue. O ex-grilheta foge com Cosette, e encontra refúgio na comunidade de bernardas onde o jardineiro é o velho Fauchelevent. Esse senhor tinha sido salvo da morte por esmagamento pelo então Maire Madeleine de Montreuil-sur-Mer, quando estava embaixo da carroça quebrada. O velho, antigo desafeto de Madeleine, depois do socorro trata-o como rei. Diz para as religiosas que é seu irmão, emprega-o como seu ajudante no convento, e consegue um lugar na escola das freiras para Cosette, sua suposta sobrinha. Ocorre aqui a passagem do falso enterro da freira morta, que possibilitou a Jean Valjean entrar oficialmente no convento.
A vida no convento é boa tanto para Jean Valjean – a salvo da polícia, com um trabalho que domina, num lugar em que pode rezar muito e ficar perto de Cosette –, quanto para a garota, que recebe boa educação e pode ver todos os dias o senhor a quem chama pai.
TERCEIRA PARTE: MARIUS
Passam-se os anos, e entra em cena Marius, o filho de um oficial de Napoleão que foi feito Barão de Pontmercy pela bravura em Waterloo. Sua falecida mãe era a filha caçula do burguês Gillenormand, na casa de quem Marius mora desde criança. Gillenormand, ferrenho realista, não aceitou o casamento da filha com o que ele considerava um sujeito desprezível, e afastou Marius do pai.
Marius acaba conhecendo a vida heroica do pai através do bom Sr. Mabeuf, e rompe com o avô. Adota o título de Barão de Pontmercy, assume a promessa de ajudar ninguém menos que Thenardieu – por um equívoco, o pai pensava que ele o teria salvado em Waterloo – e vai morar sozinho enquanto estuda Direito. Cada vez mais pobre, acaba no Pardieiro Gorbeau, o mesmo em que moraram Valjean e Cosette. Faz-se amigo dos jovens protagonistas da Revolução de 1832, cujo líder Enjolras é uma figura quase mítica.
Nas suas andanças pelo parque de Luxembourg, vê Jean Valjean (agora com o nome de Fauchelevent) e Cosette, então saídos do mosteiro e moradores de várias casas-esconderijos. Nas primeiras vezes, nota apenas um velho de boa figura e uma adolescente sem muita graça. Interrompe os passeios no parque por seis meses. Quando os retoma, encontra o mesmo senhor, mas com uma bela moça. É a mesma Cosette. Apaixonam-se, e o rapaz passa a segui-la. Valjean percebe o que ocorre e é tomado por um forte ciúme. Não quer perder por nada o amor de Cosette, a quem tem por filha. Acaba com os passeios no parque e muda-se dali.
Os vizinhos de Marius no Pardieiro Gorbeau são, por coincidência, os Thenardieu: o pai, a mãe e as filhas Eponine e Azelma. Estão arruinados, a ponto de se terem livrado de Gavroche e dos dois últimos filhos. Estes se tornam “meninos de Paris”, tema que merece um aparte explicativo de Victor Hugo.
Numa das tentativas de conseguir dinheiro, os Thenardieu armam uma cilada para um senhor caridoso e sua filha que frequentam a igreja, a saber, Jean e Cosette. Marius vê a cena de uma fresta da parede e vai avisar a polícia. Quem o atende é Javert, que desconfia de tudo e prepara uma contracilada. Vão todos presos – o casal e os malfeitores que o ajudaram – e Jean Valjean foge. Marius fica perplexo. Pelo menos, viu de novo a sua amada.
QUARTA PARTE: O IDÍLIO DA RUA PLUMET E A EPOPEIA DA RUA SAINT-DENIS
Eponine se apaixona por Marius, e lhe faz um favor: mostra-lhe onde moram ou se escondem Jean e Cosette, na casa da Rua Plumet. Os jovens se encontram e começam o romance. Fazem-no escondido, pois Jean Valjean se oporia se soubesse. De fato, quando descobre, muda-se de novo dali, e Marius perde a pista de Cosette, achando que ela não o quer mais. Desiludido, vai às barricadas da Rua Saint-Denis, e luta no bando republicano de Eljonras contra o exército do Rei Luiz Felipe.
Victor Hugo dedica páginas e páginas à Revolução de 1832, evocando fatos históricos e criando o cenário da Rua. Saint-Denis. Vê-se a sua simpatia pelos insurgentes. Também dedica um bom espaço para as aventuras do pequeno Gavroche, filho dos Thenardieu.
QUINTA PARTE: JEAN VALJEAN
Na batalha da Rua Saint-Denis morrem todos, incluindo o pequeno Gavroche e o velho Mabeuf. Quem está na trincheira é o próprio Jean Valjean, que salva, primeiro, Javert – preso pelos rebeldes, a ponto de ser fuzilado –; depois, Marius. O jovem estava desacordado pelos ferimentos recebidos, e é carregado pelo ex-grilheta através dos esgotos de Paris, numa difícil travessia. Quando saem do esgoto, lá está Javert. Levam Marius à casa do avô, depois Jean se entrega ao policial. A vida não tem mais sentido para ele, agora que sabe do amor de Cosette por Marius.
Javert tem uma crise de consciência: pode prender o homem que o salvou na trincheira da Rua Saint-Denis? Por outro lado, ele, que é a personificação do cumprimento da lei, tem o direito de deixar solto um condenado pela justiça? É tal o seu tormento interior, que deixa livre Jean Valjean e se suicida, lançando-se no Rio Sena.
Na lenta convalescência de Mário, duas coisas importantes ocorrem: restabelece a amizade com o avô Gillenormand, e passa a ser visitado por Cosette e por Valjean, este sob o nome de Fauchelevent. Os jovens se casam. Cosette recebe um grande dote, qual seja, o dinheiro ganho por Madeleine e guardado na floresta, no montante de seiscentos mil francos.
A história parece ter chegado ao fim, mas Jean Valjean ressurge: depois de uma deliberação interior profunda, semelhante à que teve quando se entregou em juízo no caso Champmathieu, conta tudo a Marius. Confessa que o admirável Sr. Fauchelevent na verdade é um condenado perpétuo a trabalhos forçados. Marius, estarrecido, pouco a pouco afasta Cosette de Jean Valjean, e não toca no dinheiro dela, pensando ser fruto de crimes. Valjean entende o que ocorre, e decide morrer sozinho, na modesta casa em que mora. Nada tem sentido para ele sem Cosette.
Nas suas horas derradeiras, pede a Deus para ver Cosette pela última vez, enquanto escreve para ela e o marido, explicando a origem honesta do dinheiro. Nesse exato momento, Thenardieu visita Marius, disposto a desmascarar Fauchelevent em troca de dinheiro. O que faz é iluminar Marius com a verdade: foi Jean Valjean quem o salvou na trincheira, carregou-o pelos esgotos de Paris e o depositou nos braços do avô e da amada. Percebe que são boas todas as obras do ex-grilheta convertido.
Marius e Cosette chegam correndo ao quarto de Jean Valjean, que morre agradecido por tê-los visto, e por sentir-se perdoado e compreendido.
O livro acaba com as palavras escritas na sua lápide:
“Ele dorme. E embora a sorte lhe fosse bem estranha
Ele vivia. Morreu quando não teve mais o seu anjo;
A coisa simplesmente chegou, de moto próprio.


Como a noite que chega, quando o dia se vai.”