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quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Ressentimentos, controle e comunicação na vida conjugal.


Por Maria Teresa Serman

Quando parece que tudo já foi dito sobre o relacionamento marido e mulher, acontece de nos surpreendermos com abordagens elucidativas sobre o assunto. Ontem um período breve de insônia foi o suficiente para aprender bastante sobre esses três pontos citados, e o esclarecimento veio de um programa a que nunca havia assistido, talvez porque o título sugerisse algo muito explícito - não me lembro se é "Na cama... ou No quarto... e em seguida o nome de uma terapeuta, doutora... não vem ao caso. Porém, logo começou demonstrando que era algo mais do que uma visão compartimentada, sem trocadilhos. O assunto era o relacionamento do casal como um todo, e como isso repercutia na sua afetividade conjunta, emocional e física. 

O casal em questão passava por grave crise, e estava afastado emocionalmente, resultando em um relacionamento sexual mecânico e insatisfatório. A profissional começou, então, a fazer perguntas em conjunto, e depois em separado. Aos poucos as mágoas e decepções foram se revelando, sem agressões mútuas, mas com perceptível sofrimento. A mulher conseguia externar em lágrimas o seu sofrimento, mas o marido parecia usar uma máscara impenetrável - olhos arregalados, corpo tensionado, nenhuma alteração facial. Como logo se viu, e não é nenhuma surpresa, havia muito ressentimento trancado no coração de cada um, o que a terapeuta conseguiu extrair e tratar com delicadeza e sabedoria.

O homem havia perdido a mãe uns três anos antes, depois de uma longa e sofrida enfermidade. Cuidou sozinho dela, sem recorrer ao irmão, e nem pedir ajuda à esposa, o que acarretou muito ausência de casa, de corpo e coração. Ela se sentiu relegada, impotente, aceitou o lugar em que ele a  havia colocado, e foi cultivando a rejeição. Quando a sogra morreu, ela viajou imediatamente para outro estado, para estar com sua própria família, deixando o marido sozinho para enterrar a mãe e passar pela dor final. Parece estranho, não? Foi uma reação de ruptura, uma vingança calculada.

Claro que ele ficou magoado, mas não disse nada, não reagiu. Por seu lado, a esposa, não vendo reação, concluiu que o marido não se importara com sua ausência, e a mágoa cresceu em ambos, muda, corroendo o amor que, como se viu posteriormente, estava latente, chorando em surdina, nas pronto para ressurgir. Quando começaram a falar, orientados pela especialista, o marido conseguiu dizer que ela tinha sido egoísta, abandonando-o na hora em que este mais precisava, e se pode perceber que ela não havia se dado conta disso. Por quê? Sua resposta foi de que ela não queria que ele ficasse com a última palavra, não queria lhe dar o controle da situação. Se ele tinha determinado antes como eles viveriam em relação a uma crise - a doença da mãe/sogra - ela agora retomava as rédeas da situação. 

Depois do "diagnóstico", a terapeuta propôs algumas diretrizes, simples, como "dever de casa": que cada um fizesse, por algum tempo, algo que o outro quisesse, e do modo como o preferisse, de carinhos específicos, abraçar, beijar, até DIZER O QUE QUERIA, não esperar que o outro adivinhasse e depois ficar ressentido por não acontecer; para em seguida inverter a ótica - fazer do jeito que o próprio desejasse, alternando, assim, o equilíbrio conjunto. Isso os aproximou, fez com que enxergassem o ponto de vista do outro, aliviou a tensão, preparando-os para o próximo passo...que foi o lance do controle.

Ela preparou uma escalada de parede, aquela em que a pessoa vai subindo, pisando e segurando em ressaltos espaçados, sempre presa a uma corda. A esposa subiu primeiro, com o marido incentivando-a carinhosamente embaixo. Não conseguiu ir muito alto, mas o objetivo era o incentivo, e ele aplaudiu o empenho e recebeu-a com abraços e beijos. Tendo ele alcançado o patamar proposto pela terapeuta, e sendo também incentivado pela esposa, soltou-se de onde estava, só seguro pela corda, e ela o recebeu do mesmo jeito afetuoso.Ficou bem óbvio que o carinho de que ela sentia falta, o que revelou logo no início, lhe foi dado, e ele ficou no controle da experiência, com a concordância dela.

O passo seguinte foi um encontro preparado, no mesmo bar em que ele a havia pedido em casamento. Lá lhes foi proposto um tipo de jogo: que cada um escrevesse em um papel 3 coisas de que gostava ou precisasse e que o outro já fizesse por ele/ela. Além disso, listaram individualmente também outros 3 itens de que sentiam falta, e que o cônjuge não fazia, talvez por não terem sido ditas, o que implicava pedir e aceitar ajuda e afeto, explicitamente, sem expectativas que podem ser frustrantes, revelando claramente o que quer e espera.

A visita final da terapeuta mostrou um recomeço, uma aprendizagem, que resultou em perdão mútuo, e no desafogo do marido, que chorou várias vezes, e cuja mudança de expressão foi marcante, impressionante. Tudo pareceu verídico, inclusive os dois filhos e a casa da família. Sem dúvida ficou claro que sentimentos ocultos e sufocados, resultantes de atitudes calculadas ou automáticas, podem trazer um prejuízo grave ao amor verdadeiro de uma casal, que, felizmente, procurou ajuda e a obteve. E todos podemos aprender com um programa desses, que traz um a visão inesperada e reconfortante, principalmente nos dias atuais, de que é possível, mais ainda, é fundamental investir no amor. O programa foi uma lição e uma bofetada afável no meu preconceito.

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