Por Maria
Teresa Serman
Quando
parece que tudo já foi dito sobre o relacionamento marido e mulher, acontece de
nos surpreendermos com abordagens elucidativas sobre o assunto. Ontem um
período breve de insônia foi o suficiente para aprender bastante sobre esses
três pontos citados, e o esclarecimento veio de um programa a que nunca havia
assistido, talvez porque o título sugerisse algo muito explícito - não me
lembro se é "Na cama... ou No quarto... e em seguida o nome de uma
terapeuta, doutora... não vem ao caso. Porém, logo começou demonstrando que era
algo mais do que uma visão compartimentada, sem trocadilhos. O assunto era o
relacionamento do casal como um todo, e como isso repercutia na sua afetividade
conjunta, emocional e física.
O casal
em questão passava por grave crise, e estava afastado emocionalmente,
resultando em um relacionamento sexual mecânico e insatisfatório. A
profissional começou, então, a fazer perguntas em conjunto, e depois em
separado. Aos poucos as mágoas e decepções foram se revelando, sem agressões mútuas,
mas com perceptível sofrimento. A mulher conseguia externar em lágrimas o seu
sofrimento, mas o marido parecia usar uma máscara impenetrável - olhos
arregalados, corpo tensionado, nenhuma alteração facial. Como logo se viu, e
não é nenhuma surpresa, havia muito ressentimento trancado no coração de cada
um, o que a terapeuta conseguiu extrair e tratar com delicadeza e sabedoria.
O homem
havia perdido a mãe uns três anos antes, depois de uma longa e sofrida
enfermidade. Cuidou sozinho dela, sem recorrer ao irmão, e nem pedir ajuda à
esposa, o que acarretou muito ausência de casa, de corpo e coração. Ela se
sentiu relegada, impotente, aceitou o lugar em que ele a havia colocado,
e foi cultivando a rejeição. Quando a sogra morreu, ela viajou imediatamente para
outro estado, para estar com sua própria família, deixando o marido sozinho
para enterrar a mãe e passar pela dor final. Parece estranho, não? Foi uma
reação de ruptura, uma vingança calculada.
Claro que
ele ficou magoado, mas não disse nada, não reagiu. Por seu lado, a esposa, não
vendo reação, concluiu que o marido não se importara com sua ausência, e a
mágoa cresceu em ambos, muda, corroendo o amor que, como se viu posteriormente,
estava latente, chorando em surdina, nas pronto para ressurgir. Quando
começaram a falar, orientados pela especialista, o marido conseguiu dizer que
ela tinha sido egoísta, abandonando-o na hora em que este mais precisava, e se
pode perceber que ela não havia se dado conta disso. Por quê? Sua resposta foi
de que ela não queria que ele ficasse com a última palavra, não queria lhe dar
o controle da situação. Se ele tinha determinado antes como eles viveriam em
relação a uma crise - a doença da mãe/sogra - ela agora retomava as rédeas da
situação.
Depois do
"diagnóstico", a terapeuta propôs algumas diretrizes, simples, como
"dever de casa": que cada um fizesse, por algum tempo, algo que o
outro quisesse, e do modo como o preferisse, de carinhos específicos, abraçar,
beijar, até DIZER O QUE QUERIA, não esperar que o outro adivinhasse e depois
ficar ressentido por não acontecer; para em seguida inverter a ótica - fazer do
jeito que o próprio desejasse, alternando, assim, o equilíbrio conjunto. Isso
os aproximou, fez com que enxergassem o ponto de vista do outro, aliviou a tensão,
preparando-os para o próximo passo...que foi o lance do controle.
Ela
preparou uma escalada de parede, aquela em que a pessoa vai subindo, pisando e
segurando em ressaltos espaçados, sempre presa a uma corda. A esposa subiu
primeiro, com o marido incentivando-a carinhosamente embaixo. Não conseguiu ir
muito alto, mas o objetivo era o incentivo, e ele aplaudiu o empenho e
recebeu-a com abraços e beijos. Tendo ele alcançado o patamar proposto pela
terapeuta, e sendo também incentivado pela esposa, soltou-se de onde estava, só
seguro pela corda, e ela o recebeu do mesmo jeito afetuoso.Ficou bem óbvio que
o carinho de que ela sentia falta, o que revelou logo no início, lhe foi dado,
e ele ficou no controle da experiência, com a concordância dela.
O passo
seguinte foi um encontro preparado, no mesmo bar em que ele a havia pedido em
casamento. Lá lhes foi proposto um tipo de jogo: que cada um escrevesse em um
papel 3 coisas de que gostava ou precisasse e que o outro já fizesse por
ele/ela. Além disso, listaram individualmente também outros 3 itens de que
sentiam falta, e que o cônjuge não fazia, talvez por não terem sido ditas, o
que implicava pedir e aceitar ajuda e afeto, explicitamente, sem expectativas
que podem ser frustrantes, revelando claramente o que quer e espera.
A visita
final da terapeuta mostrou um recomeço, uma aprendizagem, que resultou em
perdão mútuo, e no desafogo do marido, que chorou várias vezes, e cuja mudança
de expressão foi marcante, impressionante. Tudo pareceu verídico, inclusive os
dois filhos e a casa da família. Sem dúvida ficou claro que sentimentos ocultos
e sufocados, resultantes de atitudes calculadas ou automáticas, podem trazer um
prejuízo grave ao amor verdadeiro de uma casal, que, felizmente, procurou ajuda
e a obteve. E todos podemos aprender com um programa desses, que traz um a
visão inesperada e reconfortante, principalmente nos dias atuais, de que é
possível, mais ainda, é fundamental investir no amor. O programa foi uma lição
e uma bofetada afável no meu preconceito.
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