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terça-feira, 28 de setembro de 2010

Repudiar o aborto não é apenas tarefa de religiosos

Por Rafael Carneiro Rocha

Pelo meu lado fico estupefato que os laicos deixem aos crentes o privilégio e a honra de afirmar que não se deve matar”
Norberto Bobbio (1909-2004), filósofo político agnóstico, laicista e de esquerda* * *

O discurso a respeito do mal do aborto foi inicialmente levantado pela Igreja Católica e se encontra, atualmente, muito amparado por outras religiões. Deste modo, os abortistas, recorrendo à ideia de estado laico, dizem que a fé religiosa não deve influenciar a legislação. Mas o problema é que atentar para o que seja uma origem da vida, nos dias de hoje, demanda um conhecimento que já é alheio a dogmas ou a postulados de fé.

Hoje, acreditar que um embrião é um indivíduo com direitos demanda uma postura de conhecimento diferente daquela em que acreditamos, por exemplo, na Imaculada Concepção de Maria ou na Ressurreição de Jesus Cristo. O desenvolvimento técnico nos possibilita saber que existe no embrião toda a informação genética do indivíduo, como também nos permite visualizar, pelas ultrassonografias, uma pequena criança que vive no ventre materno desde as primeiras semanas de vida.

A causa a favor da vida também é um convite que se estende às pessoas que não têm fé religiosa. O exemplo do filósofo Norberto Bobbio, homem de esquerda e agnóstico, é interessante. Em 1981, num referendo que ocorreu na Itália, Bobbio se manifestou contrário ao aborto. Abaixo, trechos de uma entrevista dele ao jornal italiano Corriere della sera, que retirei de um blog português.

«Antes de mais, o direito fundamental do concebido, aquele direito a nascer sobre o qual, no meu entender, não se pode transigir. É o mesmo direito em nome do qual sou contrário à pena de morte. Pode falar-se de despenalização do aborto, mas não se pode ser moralmente indiferente perante o aborto».

«Diz Stuart Mill: “Sobre si mesmo, a sua mente e o seu corpo, o indivíduo é soberano”. Agora, as feministas dizem: “No meu corpo mando eu”. Pareceria uma perfeita aplicação deste princípio. Eu, pelo contrário, digo que é aberrante que abranja o aborto. O indivíduo é uno, singular. No caso do aborto há um “outro” no corpo da mulher. O suicida dispõe apenas da sua vida. Com o aborto está-se a dispor da vida de um outro».

3 comentários:

MT disse...

Você argumentou com muita propriedade e argúcia, Rafael. Essa conversa de "no meu corpo mando eu" só serve para justificar o aborto. Quando é pra "mandar" no próprio corpo de modo a agir corretamente, aí os instintos é que mandam. O sr. Bobbio está corretíssimo,tudo está dentro do respeito à vida.

João Felipe disse...

Ser contra o aborto é ter fé na Ciência, pois é ela que comprova a vida na fecundação!

Liana Clara disse...

Perfeito João.
Só não vê quem não quer.

E como disse a MT: só pensam que mandam no corpo nestas horas, mas quando é deixar o corpo como mercadoria de açougue não têm este sentido de propriedade.

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