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quinta-feira, 3 de julho de 2014

Busca do essencial

 Por Pedro J. Bondaczuk
O homem, em sua busca frenética pelo supérfluo, perde o essencial. Em sua corrida por bens que apenas lhe pertencerão no curto espaço de sua vida terrena, deixa de cultivar sua alma imortal. Age demais, de forma caótica e desordenada, e pensa de menos, sem método, sem ritmo, sem disciplina. Consegue, no final das contas, apenas infelicidade, causada pela frustração dos desejos.

A natureza existe para ser contemplada em sua perfeição e não para que se tente interferir em suas leis inflexíveis, no sentido de melhorar o que já é perfeito. As necessidades reais do homem são muito pequenas e podem ser satisfeitas sem muito esforço, desde que ele seja atento, disciplinado e diligente.

Consiste no alimentar-se, o suficiente para prover o organismo de energia, e não na gula desenfreada, que afeta o metabolismo e produz doenças. No vestir-se, de forma confortável e funcional, com simplicidade, que é onde o bom gosto reside. No abrigar-se em uma casa que não precisa de luxo, mas de higiene e conforto.

Tudo o mais é perda de tempo e desvia o indivíduo de sua tarefa mais nobre, que é o raciocínio claro, o pensamento livre, a meditação profunda em busca do autoconhecimento. Não é essa capa de carne, ossos, sangue e músculos, que um dia vai se deteriorar, que tem que ser a preocupação humana. Esta, basta que seja cuidada, através de princípios sadios de alimentação e higiene. O mais, a própria natureza se incumbe de fazer.

É a alma imortal que deve preocupar cada um de nós. A bondade, a solidariedade, a honestidade, a lealdade e a fidelidade precisam ser cultivadas, preservadas e transmitidas às novas gerações, por serem pilares de sociedades sadias. Poucos sabem meditar.

Bhagvan Shree Rajneesh, em seu "O Livro Orange", dá preciosa orientação nesse sentido: "Na meditação você está fazendo nada em particular, está simplesmente sendo. A meditação não tem passado, não está contaminada pelo passado. Não tem futuro, está limpa de qualquer futuro. É o que Lao Tzu chama de we-wu-wei, ação através da não-ação. É o que os Mestres Zen têm dito: sentando-se em silêncio, sem fazer nada, a primavera vem, a grama cresce por si mesma. Lembre-se: por si mesmo – nada é feito. Você não puxa a grama para cima; a primavera vem e a grama cresce por si mesma. Esse estado – no qual você permite que a vida siga seu próprio caminho, sem querer dirigi-la, sem querer controlá-la, sem a manipular, sem lhe impor nenhuma disciplina – esse estado de pura e indisciplinada espontaneidade é meditação".

O homem, por menor que seja a sua posição social e por mais ínfima que seja a sua condição material, faz parte de um todo grandioso. Integra uma unidade tão grande, que suas dimensões são inconcebíveis para a mente humana: o universo. Os cientistas especulam a respeito. Criam teorias sobre a origem universal. Arriscam-se a previsões acerca do fim desse conjunto descomunal. Tentam, até, definir o seu tamanho. Claro que tudo não passa de mero exercício especulativo. Certeza ninguém tem de nada e nunca poderá ter, dadas as limitações humanas.

Cada homem, e por extensão, cada ser vivente, animal ou vegetal (e quem sabe até mineral, que talvez se constitua em uma forma peculiar de vida) é como se fosse uma célula de um enorme organismo vivo: a Terra. E de fato é. Integra-se num todo, tem sua finalidade e função e é importante para o conjunto. Daí o egoísmo ser, antes de tudo, enorme tolice.

Deus seria a soma de tudo isso. A somatória dos universos (pois é provável que existam inúmeros). Estaria em todos os lugares simultaneamente e em nenhum especificamente. Marcaria presença em tudo e todos. Religião, como a própria palavra sugere (vem de "religare", religar, tornar a juntar), é o retorno, pelo menos espiritual, à origem divina. É a aquisição da consciência da nossa existência e da finalidade do existir.

Daí ser rematada tolice a existência dessa infinidade de seitas. A religação com a divindade é uma só, embora por infinitos caminhos. Cada qual sente essa necessidade (alguns a renegam) à sua maneira, de conformidade com seu estágio mental. Uns fazem-no de forma evoluída, madura, racional, identificando Deus em cada célula do seu organismo. Outros, precisam de projeções, de estátuas, de ídolos, de visualizações. Quem está certo? Quem está errado? Erra apenas quem não faz qualquer tentativa para se religar.

O escritor Aldous Huxley, em seu livro "Contraponto", ajuda a esclarecer a questão ao escrever: "Deus está em nós, naturalmente, como está em muitos lugares. Mas ele está em nós no mesmo sentido que um pedaço de pão está em nós quando o comemos. Deus está no nosso corpo mesmo, no nosso sangue e nos nossos intestinos, no nosso coração, na nossa pele, nos nossos rins. Deus é a resultante total, espiritual e física, de todo pensamento, de toda ação que signifique vida, de toda relação vital com o mundo".

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