Como somos pais e mães de família estamos sempre antenados a tudo que possa formar bem ou deformar nossos filhos, e os últimos assuntos da mídia anda dando margens a muitas interpretações sobre a violência e a liberdade de expressão. Como recebi esse texto, muito bem escrito, por um artista de TV, a princípio nada comprometido com religiões, resolvi colocá-lo aqui para que mais famílias lessem uma colocação bem clara e com argumentos bem convincentes, para usá-los com nossos filhos, quando nos questionarem sobre o assunto.
Segue a reflexão do ator Benvindo Siqueira:
“Uma das facetas do meu trabalho de ator é trabalhar com o humor. Aprendi com os acadêmicos do humor que a graça deve ser sempre feita com elegância e respeito. É coisa que vem de séculos da arte de ser palhaço.
Mesmo com o grosseiro e ofensivo humor de Charlie, não posso compactuar e não posso aceitar que terroristas assassinem pessoas, sejam jornalistas, ou não. Que semeiem a violência do terror entre os povos. Lamento profundamente a morte dos dez jornalistas e dois policiais em Paris. Mas, se homens que trabalharam pela Paz e pelo Bem, como Gandhi e Martin Luther King, foram mortos a tiros pelo Mal, o que poderia acontecer a quem há décadas instiga o ódio religioso, racial, faturando grana em edições em troca da humilhação racistas, islamofóbica, anticristã, e anti-humanista? Ou será que dá pra esquecer a política colonialista francesa esmagando com caminhões - para não gastar balas - milhares de prisioneiros árabes argelinos nas guerras de libertação?
Navegar no sentimento francês de xenofobia e islamofobia dá boa grana, Mas um dia a casa cai. Se o Mal cobra do Bem, como no caso de Gandhi e Martin, imaginem, o que cobrará do Mal?
Vi no CHARLIE uma charge onde em uma orgia, Deus, Jesus e o Espírito Santo - Trindade sagrada para os cristãos, participavam, os três, de um coito anal.
Não gostei, fiquei chocadíssimo. Não ao ponto é claro de explodir a redação do Charlie. Mas chocadaço. A minha cultura e formação é cristã ocidental. Eles não têm esse direito. Na Bahia temos um ditado: Respeito é bom e eu gosto. Isto foi o mais absoluto desrespeito e o mais ofensivo deboche.
Os ataques do Charlie não se localizavam apenas contra muçulmanos, mas contra todas as crenças, todas as "fés", contra os povos do terceiro mundo e contra todo o sagrado de povos que eles, a serviço do racismo e da intolerância, ajudavam a desmoralizar, usando a capa de uma ultra esquerda.
Para os cristão não há ofensa pior que a blasfêmia ao Espírito Santo - Marcos 3. 28, 30. Então, quando uma charge destas é publicada, o objetivo qual é? Liberdade de expressão? Divertir os cristãos? Ou ofender seus valores e ridicularizá-los? Pelos frutos conhecereis a árvore.
Nestes anos Charlie chamou os negros de macacos, os árabes de fedorentos, os judeus de avarentos, os cristãos de sodomitas... Esperavam o quê? Bênçãos?
Isto a meu ver não é liberdade de expressão, é libertinagem. (Vide o sentido em Caldas Aulete). Por exemplo: temos a liberdade de ir e vir, mas se eu entrar numa propriedade sem autorização, passa a ser invasão de propriedade e não há "liberdade de ir e vir" que me defenda nisso.
Para completar, numa França composta por 40% de ateus, em crise econômica, com o avanço da extrema direita, e a queda de popularidade de François Hollande, o atentado sai do campo humanista e passa para a política eleitoral. Para recuperar a popularidade e a liderança abaladas, François Hollande toma a inciativa e convoca uma manifestação monstro para este domingo. Enquanto a fascista Marie Le Pen busca com seu discurso anti-islâmico, racista e ante emigrantes conquistar mais votos para seu Partido de Extrema Direita. Os doze mortos parecem virar massa de manobra eleitoral.
Por tudo isso torno a condenar o ataque terrorista e a lamentar a perda de vidas. Posiciono-me com veemência pela liberdade de expressão, contra a censura. Repudio a estupidez terrorista, mas não consigo ser CHARLIE. - Je ne suis pas Charlie!.”
2 comentários:
Formidável e esclarecedor o artigo!
Obrigada por repartir conosco no Blog!
Concordo plenamente!
Tudo tem limites!
Liberdade de expressão sim, mas sem ofender e denegrir a imagem alheia: o que não deixa de ser uma violência!
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