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quarta-feira, 3 de março de 2010

Quaresma - Como malhar sua alma

Texto de Maria Teresa Sermann

Quem fugiu recentemente do calor da cidade para paragens mais amenas já deve ter observado árvores densamente floridas em amarelo e roxo. Estas últimas são as Quaresmeiras, um insuspeito reconhecimento da natureza ao período litúrgico que vivemos. As primeiras julgo serem as Acácias (algum botânico me corrija, por favor, se estiver errada).


A Igreja Católica denomina Quaresma aos quarenta dias que começam na Quarta- feira de Cinzas e terminam na Páscoa. São marcados pela penitência, pela oração contrita, jejum e abstinência. As igrejas e os paramentos passam a se revestir da cor roxa, símbolo dessa contrição. É um tempo especial de preparação das nossas almas para a Ressurreição do Senhor, a passagem para a Vida, que celebraremos, no Domingo Pascal. Digo celebraremos porque "Cristo ressuscitou dentre os mortos, como primícias dos que morreram (...) (I Coríntios 15,20).
Comemoramos desde já, com esperança, a cada Páscoa, também a nossa passagem para o paraíso.

A palavra "primícias" tem profundo significado, desde os tempos bíblicos. Jesus Cristo, como novo e perfeito Abel, oferece a Si mesmo ao Pai, por nós,por toda a humanidade, por cada ser criado. Ele é a oferenda dileta, e, a partir de então, São Paulo nos assegura que, se formos fiéis, seremos salvos.

Quaresma significa oportunidade de amadurecer para a vida espiritual. Não deve ser vista sob um ótica negativa, de privação por si só. Jejum e abstinência, e principalmente esmola e oração, são atos voluntários de amor ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Entregamos à Ssma. Trindade o que mais nos agrada, como um filho carinhoso oferece a mais viçosa flor à sua mãe.

O jejum não é um castigo, e sim um meio muito eficaz de afinar o espírito para conhecer e amar mais profundamente a Deus. Muitos fiéis muçulmanos, hindus e budistas o praticam com regularidade. Não é necessariamente de comida ou bebida, e é importante ensinar às crianças e aos jovens outras possibilidades: comprar menos, calar a palavra crítica; sorrir e ajudar de boa vontade (acredito, e comigo todas as mães, que deve alegrar muito ao Pai ver seus filhinhos e filhinhas tirarem a mesa e lavarem a louça por amor); trocar programas fúteis por outros úteis à alma e à amizade; enfim, que o amor amplie nossa imaginação para renovar nossas mortificações habituais!

A prática do jejum e da abstinência é obrigatória a todos os batizados (católicos), com idade entre 18 e 60 anos, na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa (da Paixão do Senhor), devendo ser ordenada de acordo com os limites da saúde de cada pessoa. A esmola, o desapego, não só do que nos sobra, mas também do que nos apraz, é outra forma que a Igreja recomenda de aproximarmo-nos do Mestre a caminho da cruz. Afinal, Ele quis se fazer tão pobre que "não tinha onde pousar a cabeça".

Precisamos sempre estar atentos, como destacou um trecho do evangelho de missa recente, a não ostentar nossa contrição e generosidade, ou divulgar nossas mortificações - “(...) quando deres esmola, que a tua mão direita não saiba o que faz a direita. (...) "quando orares, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar em pé, para que os vejam." Aliás, é bom repetir que se tratam de atos livres de amor. Amor não rima com mau - humor. Maridos, esposas, filhos e afins não são degraus para nossas práticas quaresmas. Ou melhor, são totalmente, se deles nos "aproveitarmos" para mortificar a vontade, para o sorriso esforçado, não forçado; como estímulos para o serviço alegre.

Afinal, homens e mulheres não vivem se privando de "engordiets", para terem saúde ou estarem em forma? Ou suando e subjugando o corpo nas academias, por exigência de cânones estéticos espartanos? Que tal transformar essa tendência modernamente supliciante em salutar luta ascética? O prêmio vale à pena!

Um comentário:

Odete A. Stingrer disse...

Perfeita esta colocação sobre a quaresma. Ficou simpático e ao mesmo tempo correto tudo sobre este tempo de mortificação. A Terra esta pedindo socorro ao homem, pedindo que rezem mais e façam sacrifícios, pois estes acontecimentos atuais, como terremotos, tsunamis, tempestades, nevascas, estão mostrando que as coisas andam pretas e que o homem esta recebendo de volta todas as agressões que tem feito contra a natureza.

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