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sexta-feira, 15 de março de 2013

EmContando – 25 - O Gigante Egoísta

O Gigante Egoísta - parte 1
Todas  as tardes, quando voltavam da escola, as crianças costumavam ir brincar  no jardim do Gigante.

Era um belo e vasto recanto, coberto de grama verde e macia. Aqui e ali, por sobre a relva, apontavam lindas flores, semelhando estrelas. Havia doze pessegueiros que, na primavera, se abriam em delicada floração de cor rosa e pérola: no outono, ficavam carregados de deliciosos frutos. Os pássaros, pousados nas árvores, cantavam tão docemente que as crianças costumavam interromper os seus brinquedos para escutá-los.

“Quão felizes somos aqui!” – diziam entre si.

Um dia o Gigante regressou. Fora visitar um amigo, o papão da Cornualha, hospedando-se em casa deste durante sete anos. Decorrido esse tempo, dissera tudo quanto tinha a dizer, visto que sua conversa era  pouca; e resolveu retornar ao seu próprio castelo. Ao chegar, viu as crianças brincando no jardim.

“Que estais fazendo aqui?” – gritou-lhes, com voz bastante ríspida. A criançada deitou a correr.
“Meu jardim é meu jardim. Todos sabem: não permito que ninguém, a não ser eu mesmo, brinque nele” – resmungou consigo.

E ergueu uma alta muralha à volta do vergel, afixando a tabuleta de aviso: OS INVASORES SERÃO PROCESSADOS
Era um gigante deveras egoísta.

As pobres crianças não tinham, agora, onde brincar. Experimentaram fazê-lo na estrada, mas esta era poeirenta e cheia de pedras ásperas; não gostavam dela. Ao término das aulas costumavam perambular à volta das altas muralhas, conversando sobre o lindo jardim que havia ali dentro.
“Como éramos felizes ali!” – diziam-se.

A primavera chegou, então, e, por todo o campo, surgiram florzinhas e pássaros. Apenas no jardim do Gigante Egoísta era inverno ainda. Nele as aves não queriam cantar, pois não havia crianças, e as árvores não se lembraram de florir. Certa vez, uma linda flor pôs a cabeça para fora da grama; avistando, porém, a tabuleta, sentiu tanta pena dos infantes que se enfiou, novamente, de mansinho, no solo, e adormeceu. Os únicos seres satisfeitos eram a Neve e a Geada.

“A primavera esqueceu-se deste jardim.” – disseram. “Por conseguinte, ficaremos aqui durante o ano todo.”
A primeira cobriu a relva com seu extenso manto branco, e a segunda tingiu as árvores de prata. Em seguida, convidaram o Vento do Norte para vir ter com elas, e este veio. Envolto em casaco de pele, zunia o  dia inteiro pelo vergel, derribando as chaminés.

“É um lugar aprazível.” – falou-lhes o Vento. “Devemos convidar o Granizo para uma visita.”
Este último também veio e, todos os dias, durante três horas, tamborilava no telhado do castelo, até que fendeu a maior parte das telhas; e passou, então, a correr à volta do jardim tão rápido quanto era capaz. Vestia-se de cinzento e seu hálito era que nem gelo.

“Não compreendo porque a primavera está demorando tanto  para vir.” – murmurou consigo  o Gigante, ao postar-se à janela, olhando lá fora o seu vergel branco e triste. – “Espero que o tempo mude.”

A primavera, porém, jamais veio, e tampouco o verão. O outono trouxe dourados pomos a todos os jardins, mas ao do Gigante, nem um sequer.

“É egoísta demais!” – justificou.

De modo que ali era sempre inverno; e o Vento do Norte, o Granizo, a Geada e a Neve dançavam por entre as árvores.

Certa manhã, o Gigante achava-se desperto, na cama, quando ouviu uma linda melodia. A música soou-lhe tão agradavelmente aos ouvidos que pensou fossem os músicos reais passando. Na verdade, era apenas um Pintarrochozinho que cantava, de fora de sua janela; fazia porém tanto tempo desde que ouvira um pássaro cantar, em seu jardim, que lhe pareceu ser a mais linda melodia do mundo. O Granizo parou, então, de saltitar sobre o telhado, e o  Vento extinguiu o seu rugido; pela janela aberta vinha lhe um delicioso perfume.

“Creio que, por fim, a Primavera chegou.” – disse consigo, saltando da cama.

E olhou para fora ... Mas o que via?!
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( Não percam a resposta na próxima sexta-feira. O final da história é surpreendente. Não percam! ) Agnes G. Miley

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