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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Uma constelação de famílias – parte 1

Este texto foi postado pelo padre Francisco Faus, conhecido por suas numerosas obras pela Editora Quadrante, em seu site www.padrefaus.org , no dia 8 de dezembro passado, dia da Imaculada Conceição.  Leiam e meditem, é muito profundo e rico em mensagens verdadeiras.

É conhecida a sentença que, com pequenas variantes, afirma: «Família sadia, sociedade sadia. Família em crise, sociedade em crise».
A rotundidade dessa afirmação é, sem dúvida, discutível. Mas é inegável que encerra um grande núcleo de verdade.(...)
Eu desejaria agora, concretamente, frisar apenas uma das razões que, a meu ver, evidenciam o nexo de causalidade existente entre família sadia e sociedade sadia.

Refiro-me ao fato de que, na sociedade, não há nenhum âmbito de crescimento humano e moral, nenhum ambiente educativo, nenhum   “coletivo” tão propício e eficaz para o cultivo das virtudes como a família bem estruturada. E isso parece-me de suma importância,  levando em consideração que, no mundo atual, cada vez parece mais evidente que a sociedade precisa, como de um oxigênio vital, das virtudes, de virtudes mesmo: aprendidas, arraigadas, exercitadas e desenvolvidas até a maturidade. Decadência social e ignorância ou desprezo pelas virtudes são a mesma coisa. (...)

 A sociedade atual, com suas mazelas, com os preocupantes desvios de uma parte não pequena da juventude (basta pensar nas drogas) é de molde a reacender uma autêntica “saudade das virtudes”. Mas, pergunto-me, será isso possível ao mesmo tempo em  que se exalta como nunca a “liberdade ilimitada” como único valor moral, ao passo que se desprestigia a família?

Penso que, nos nossos dias, muitas vezes pode ser bom mergulhar  um pouco na sabedoria dos antigos. Remontemos a 2.500 anos atrás e ouçamos Confúcio  dizer: «Para governar deliberadamente um reino é necessário dedicar-se primeiramente a estabelecer a família e o ordenamento que lhe convém … Uma família que responda às exigências humanas e pratique o amor bastará para infundir no reino estas mesmas virtudes» (Confúcio: Studio integrale,IX.3. Milão 1960).

Muito nos pode dizer também a sabedoria dos gregos. Qualquer estudioso da antiguidade clássica sabe que, entre os poetas e filósofos gregos – e, posteriormente, entre seus discípulos latinos – a grandeza do ser humano estava indissociavelmente vinculada à “aretê”,  conceito de rico conteúdo cuja tradução mais aproximada, na linguagem moderna, é precisamente a de “virtude”. O homem vulgar – recorda Werner Jaeger na sua famosa “Paideia”– não tem “aretê”. E, nas pegadas de Sócrates, Platão reiterará que a virtude, a “aretê”, é a que torna a alma bela, nobre e bem formada, a que abrange e eleva o “humano” em sua totalidade … e irradia depois como glória na vida da comunidade. (...)

Pois bem, perante isso, parece preciso perguntar-nos: Onde é que a  nossa juventude aprende a “aretê”, a virtude, que deve ser, acima de tudo, um valor reconhecido e amado pela criança, o adolescente e o jovem, uma convicção enraizada, uma prática exercitada com empenho, da  qual depende o bem da pessoa e da sociedade? Será que hoje se pode dizer que a virtude se aprende na escola, em qualquer dos seus níveis e graus? É evidente que não. E em casa…?

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