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sábado, 30 de março de 2013

EmContando – 27 - PÃO

Sempre gostei muito de pão. Papai ensinou-nos que o pão era alimento sagrado, e, portanto, não o podíamos jogar fora nunca.

Mamãe aproveitava, sempre, qualquer pedacinho de pão dormido. Tínhamos um saco de tecido fino, pendurado na cozinha, onde eram colocadas todas as sobras de pão. Quando as coisas iam bem, os pedaços de pão seco viravam pudim, com ameixas secas picadas, ou até mesmo passas, que eram importadas naquele tempo e muito caras. Outra alternativa era fazer farinha de rosca, ou, na pior das hipóteses, quando as coisas iam mal, o pão seco acompanhava muito bem o café com leite ... e como era gostoso!

Nos domingos de Páscoa éramos acordados por um delicioso cheiro de pão assado no forno. Era uma surpresa que mamãe nos fazia sempre. Era sua obra prima. Torcendo, estiva a massa fofa e macia até que se parecesse com  uma longa corda grossa. Depois, cortava-a em três pedaços e com leveza e muita  habilidade fazia uma bela trança dobrando as pontinhas para debaixo do pão. Depois de crescido, pincelava-o com ovos e pronto. Lá ia o pão para o forno.  Nós sabíamos como ela o fazia , mas nas madrugadas de domingo de Páscoa ela sempre  fazia o pão  sem a nossa assistência. Era surpresa!

Quando nós morávamos em Hoppetenzel, na Alemanha, depois da segunda guerra, papai conseguiu, um dia – nunca soubemos  como – um pão de trigo, todo branco. Naqueles dias só se comia pão preto, sempre duro, feito de farelos de cereais menos nobres. Papai cortou o pão branco em seis pedaços  iguais em tamanho. A minha fatia era linda! Era quase duas vezes do tamanho de minha mão aberta.

Eu tinha, então, sete anos de idade. Comi a metade de meu precioso pedaço de pão e escondi a outra metade debaixo de meu travesseiro. Seria a primeira coisa que encontraria ao acordar.

Dormi muito bem. Dormi feliz! Na manhã seguinte, antes mesmo de abrir os olhos, fui  tateando devagarzinho pegar meu pão.  Mas onde estava ele? Sumiu. Só encontrei a casca dura, em forma de ferradura, toda marcada por dentinhos miúdos. Foi um camundongo! Havia muitos naquela casa! Aliás, havia muitos ratos famintos na Europa naqueles tempos.

Chorei muito naquele dia, pois perdi meu pão para um RATO!

                                                                                         Agnes. G. Milley

4 comentários:

Patricia disse...

Puxa, Agnes! Você é demaaaaaaais!
Até de desapontamento em criança você consegue tirar uma lição pra dar...lição de perseverança, de esperança e de coragem!

Não é fácil abrir mão das coisas "preciosas" como seria no caso, aquela fatia de pão tão protegida. Esses nem tão pequenos desapêgos materiais em momentos de dificuldades te fortaleceram para ser hoje a PESSOA ESPECIAL que você é e a AMIGA que nos anima e consola quando somos nós as que precisamos da sua coragem para enfrentar situações das mais difíceis que você superou e nos mostra como nós também podemos superar!VALEU!
Bjsss,
Pat

Liana Clara disse...

Depois dessa história da Agnes, não vamos mais reclamar do nosso pão diário, frio ou buchento. Feliz Páscoa a todos!

Patricia disse...

FELIZ PÁSCOA PRA VOCÊ E OS SEUS, lIANA QUERIDÍIIIIIIIIIISSIMA AMIGA DO CORAÇÃO, E PARA TODOS QUE LÊEM "nosso" Blog!

PS. Liana, desculpe a "folga" de achar que o Blog tb. me pertence, mas é que depois de compartilhar tantas experiências próprias, a gente REALMENTE se sente "EM CASA" aqui no Blog...como se estivéssemos reunidos numa tertúlia em família.
Bjsssssssss,
Pat FELIZ!

Liana Clara disse...

Claro que é seu também Pat, estamos todas juntas neste barco de família. E Feliz Páscoa pra você também.
Aqui é pra ser uma tertúlia mesmo. Bjs

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