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quarta-feira, 6 de março de 2013

Amar enquanto é tempo - homenagem à minha tia Nancy

A perda de alguém querido e próximo sempre nos enche de tristeza e orações por quem se foi. E começamos a trazer à mente lembranças esquecidas, guardadas com cuidado por nossa memória e revividas com saudade. Também lamentamos, às vezes, não termos dado mais atenção àquela pessoa, reparado mais em suas qualidades e minimizado suas falhas.

Precisamos estar atentos à fugacidade da vida e da presença de quem amamos entre nós. A rotina suga nossas forças e torna tudo comum, como se estivesse sempre à mão no momento em que nos dignarmos lembrar deles. A língua inglesa tem uma expressão de que gosto muito, pela sua perspicácia quanto a essa distração tão humana com situações e pessoas: "take for granted", que significa considerar garantido. E nada é, a não ser o amor de Deus.

O amor é o sentimento mais poderoso que há, mas não acorrenta os que amamos a nós, nem deve ser assim, senão seria tudo, menos amor genuíno. Um sacerdote muito sábio e santo disse uma vez, em uma palestra, que o amor verdadeiro transcende a morte. O elo continua na eternidade, transformado e aperfeiçoado. S.Paulo confirma essa verdade na famosa epístola aos coríntios sobre a caridade. 

Afirma que a fé e a esperança não existirão mais junto do Pai, pois não serão mais necessárias, mas a caridade nunca cessará, somente será aprimorada. É reconfortante acreditar nisso, nos dá alento e forças para lutar por merecer o céu e rezar sempre pelos que nos precederam.

Entre os que nos acostumamos a ter garantidos, os que menos enxergamos são justamente aqueles que, pela ordem natural, tendem a ir antes. Depois que escrevi isso, me lembrei, com dor no meu coração de mãe, dos jovens assassinados na boate em Santa Maria. Desculpem a contundência do termo, mas foi isso mesmo que aconteceu, foram assassinados. Mas deixo para outro texto, para a justiça da terra - que ela não tarde! -, e principalmente à misericórdia divina o assunto. Seus pais, parentes e amigos nunca pensaram que os veriam pela última vez quando deles se despediram. Pode ter sido um tchau ligeiro, um abraço mais apertado, um olhar distraído. Gosto de abençoar meus filhos sempre que saem, quando posso. Faço uma cruz em suas testas, peço que Deus os guarde, e penso assim no caso de não estar tão perto, aliás me antecipo cada manhã bem cedo. Alguns já me disseram em certas ocasiões: "Mamãe, você estava rezando por mim em tal dia, a tal hora, não é? Porque aconteceu isso e logo pensei, minha mãe está rezando por mim!"

Ai, dei uma fugida e agora volto ao ponto onde comecei o parágrafo anterior: sim, estava me referindo aos mais idosos. Todo carinho e cuidados, delicadezas e brincadeiras são pouco perto do que eles merecem. E se, por acaso, não fizeram por despertar em nós isso, nos tempos passados, necessitam agora de muita tolerância e de toda caridade e paciência que possamos dedicar. 

Principalmente se estiverem doentes, insanos, repetitivos e irritantes. Devemos procurar a ajuda de profissionais indicados, como os médicos geriatras, que nos darão dicas sobre como lidar. Mesmo com a melhor intenção e toda dedicação, podemos estar usando os termos errados e persistindo em abordagens que pioram a situação.

Amemos muito e bem, não distraída ou superficialmente, mas com detalhes de afeição alegre e inesperada, espontânea e desinteressada. Ainda é tempo!
                                                    Maria Teresa Serman

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