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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Manias de mãe e de avó

Por Maria Teresa Serman

O texto da Liana sobre insônia materna me fez remexer no meu próprio baú de lembranças e recordar algumas manias e características de mãe, que acabei por estender à minha mãe e minha avó. É fantástico lembrar de certos detalhes, ora sábios ou divertidos, que se conservam em nossa memória, ou por que participamos ou só por nos terem contado. Vou começar pelo mais antigo, com os ensinamentos que minha inesquecível avó, grande matriarca, deixou-nos, depois de noventa e sete anos esplendidamente vividos, por seus hábitos frutíferos e encaminhamentos sutis.

Ela tinha três filhas, que criou sozinha, pois meu avô deixou-a ainda bem jovem. Não se amargurou, nem procurou consolo em outros amores que não fossem as das filhas e da família, grande, unida, presente. Costurava, cozinhava, tricotava, fazia crochê, tudo primorosamente. Posso dizer que o que fazia era sempre de primeira classe. Havia uma escala semanal na cozinha, embora tivesse auxiliar, para que uma filha a cada vez aprendesse a fazer comida e cuidar da casa. A filosofia, que tento passar para meus filhos, é que, se não souber fazer não poderá ensinar e cobrar. Como prêmio da semana de atividades domésticas, a escolhida tinha o privilégio de acompanhar a mãe até uma confeitaria no centro da cidade, lugar chique na época, e depois olhar vitrine - não havia dinheiro para compras, no máximo um tecido (Deus me livre de escrever "fazenda", como se falava então!) para uma roupa confeccionada pelas mãos habilidosas de D. Alzira, que até camisas para os irmãos fazia. Isso ela também transmitiu às três, além das aulas de piano obrigatórias.

Como ninguém é perfeito, minha avó cassou o sonho de minha mãe de aprender violino, pois só piano era recomendável pra "moças de família". Vá entender! E também tinha mania, que pude experimentar pessoalmente, de nos acordar para ver se "estava viva", quando, doentes, conseguíamos dormir finalmente. Era terrível!

Já minha mãe sempre foi uma mulher muito prática, principalmente no dia a dia. Otimizava o trabalho, minimizava os esforços inúteis, poupava a saúde - sempre colocava sacolas de compras no alto para não ter que se abaixar, devido à sua frágil coluna. Era a rainha do "Lavoisier", da arte de aproveitar as sobras, e tinha uma receita de massa que enformar tudo em tortas, de frango até, pasmem, macarrão com molho, uma delícia! Ninguém percebia o reaproveitamento e pediam a receita! Aguardem que vou revelar esse segredo no blog brevemente.

Por outro lado, não me deixou aprender a andar de bicicleta com medo de eu ir muito longe, e também tinha - nem tem mais - pavor de tempestades, o que tentava, heróica mas infrutiferamente, esconder de mim, com umas declarações em tom pateticamente falso de "como a natureza é majestática e os raios e trovões manifestam o poder de Deus! " O pavor nos seu olhar era tão grande que tornava a cena uma pantomima, perceptível até para uma criança. Mas valeu a intenção, mãe. Não fiquei com medo na infância, só retardadamente agora!

Das minhas manias, que dão um compêndio, só vou mencionar a de cheirar os filhos ao saírem do banho, no caso específico os meninos, mais cascãozinhos, no pescoço, durante a pré-adolescência, e fazê-los voltar para o chuveiro, porque, como digo ainda, " a primeira sabonetada é pra limpar, a segunda pra perfumar". Do resto, conto outra hora, vocês não suportariam hoje.

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