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terça-feira, 6 de julho de 2010

Quais são os "inimigos" das famílias?

Por Rafael Carneiro Rocha

É saudável que mães e pais sejam preocupados. Educar, preparar e proteger crianças e adolescentes são responsabilidades que os pais precisam abraçar com todo o empenho possível.

Porém, não se pode confundir preocupação com desespero, nem zelo com paranoia. Às vezes, na ansiedade do cotidiano, pais e filhos não conseguem se entender. Os filhos, ainda muito jovens, não conseguem expressar suas expectativas e os pais, temerosos, procuram coisas no mundo para culpar. Os adultos descobrem bodes expiatórios e culpam a televisão, a internet, os videogames, a modernidade, a pornografia, o governo e a falência educacional pelo mau comportamento dos filhos.

A televisão e a internet podem, sim, ser "inimigas" da família. O mundo moderno permite comportamentos que uma pessoa sensata de 50 anos atrás poderia, muito bem, chamar de depravados. Porém, toda a facilidade para que os filhos façam coisas erradas são instrumentos, objetos ou contingências. Se analisarmos um ato do ponto de vista moral, descobrimos que um filho não fez bobagem apenas porque a "televisão ensinou", a "internet permitiu" ou o "mundo consentiu".

Adianta muito pouco controlar aquilo que é apenas um "objeto". Um nostálgico pode dizer que no seu tempo não havia tanta pornografia e, na tentativa de pensar numa solução para o problema, essa pessoa poderia sonhar com a proibição da venda e circulalção de todo o tipo de material pornográfico. Porém, ainda que esse bom nostálgico visse a sua utopia realizada e não houvesse mais pornografia na internet e nas bancas de revistas, ele não solucionaria o problema chave, que é o do exercício desordenado da sexualidade entre os jovens.

Mesmo que ainda não sejam sábios, crianças e adolescentes tem o correto sentimento de que há algo de incompleto nas conversas nostálgicas dos pais sobre os costumes do passado. É bem provável que os nossos avós ouviram de seus pais, em algum momento, o discurso de que no tempo dos mais velhos, as coisas eram melhores e mais decentes. Esse comentário sobre o mundo se repete por todas as gerações e mais serve como fuga da realidade do que como possibilidade de mudá-la para melhor.

Mais importante do que mapear "inimigos da família" em instrumentos, objetos e contingências, é educar os filhos para que as suas vontades sejam bem ordenadas. Um filho ter a certeza de que é amado, ouvido e respeitado contribuirá muito mais para que ele seja obediente à autoridade paterna, e feliz em suas livres escolhas, do que se for apenas um ouvinte das lamúrias dos adultos sobre o mundo.

Certa vez, pediram que o grande escritor inglês G.K. Chesterton escrevesse sobre "O que há de errado com o mundo". Ele encaminhou para o editor apenas uma palavra: "Eu". Da mesma forma, às vezes é interessante que os adultos coloquem a si mesmos como aquilo que está errado com a própria família.

Um comentário:

Mª Teresa disse...

É verdade, lamuriar-se e culpar o tempo e os costumes não adianta nada. Os pais têm que começar seu trabalho de acompanhamento e acolhimento bem cedo. Querer ser ouvido a partir de certa idade, qdo não se preparou o terreno antes, é ilusão.

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