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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

O ANIMAL QUE RI

By Tatarana

Na última Roda Filosófica, discutimos o texto “O humor nos tempos da cólera”, de Marcelo Consentino, publicado na Revista Dicta e Contradicta (http://www.dicta.com.br).

 “O homem é o único animal que ri”, ensina Aristóteles. O ato de rir é patrimônio exclusivo do animal racional. O autor ensina que, para rir, é necessário um desligamento temporário e momentâneo das emoções.

 De fato, se assistirmos a uma ópera tampando os ouvidos, sem nos deixar dominar pela emoção da música e do ambiente, vemos quão engraçados são as roupas e movimentos dos artistas, simulacros que são de guerras ou de dramas humanos. O riso ordinariamente é produzido num ambiente comunitário ou relacional. “Quer rir, tem que fazer rir”, diz o personagem de um conhecido filme. A surpresa que causa uma piada é certamente uma condicionante indispensável.

 Mas, um aspecto bastante ressaltado por Bérgson é que o riso nasce como uma espécie de censura que um determinado grupo dirige a um indivíduo em razão do seu comportamento inadequado. De fato, as piadas de português são engraçadas para os brasileiros em razão da desconformidade entre a forma de pensar de um português, que possui uma linguagem denotativa, e a de um brasileiro, cuja linguagem é mais conotativa. Assim, segundo o autor, o riso é ao mesmo tempo uma reação e uma correção a algo que desconcerta ou desequilibra a vida individual ou social. Neste sentido, o autor ressalta a ironia com uma função social: corrigir de forma sutil a conduta de alguém que age vaidosamente ou de maneira hipócrita. Sem dúvida, a ironia desperta a pessoa para a dissonância da sua conduta. Entretanto -  e aqui discordo do autor – é preciso ser muito hábil para saber utilizar-se dela, pois a ironia não deixa de ser humilhante para aquele que é objeto de comentário, ainda mais se considerarmos que ele é feito na presença de outras pessoas.

 Por outro lado, um ponto pouco trabalhado pelo autor e bastante ressaltado na nossa Roda é o saber rir de si mesmo. Narrei um episódio da vida de S. Josemaría Escrivá. Certa feita, ele andava mal humorado e acabrunhado. Teve então a seguinte ideia: “-Vou tirar uma foto instantânea!”. Ao ver quão ridícula era a sua cara sisuda, riu-se e recuperou o bom humor. Escrivá nos ensina que, quando andamos mal humorados, especialmente por algo que feriu o nosso orgulho, é preciso que saíamos de nós mesmos para enxergarmos a verdadeira dimensão daquilo que nos chateia. É  preciso que façamos uma suspensão momentânea dos nossos sentimentos de ira e orgulho ferido para que descubramos  a  “tempestade no copo d’água” gerada pela nossa imaginação e que é causa de sofrimentos, chateações e conflitos humanos.

Humildade, não levar-se tão a sério e rir de si próprio é a melhor terapia contra grande parte dos nossos dramas.

http://tatarana.wordpress.com/2010/03/06/o-animal-que-ri/

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