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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

ENTREVISTA COM Uma filha de família numerosa

1.Apresente-se para nós, de acordo com aquilo que acha importante.
Sou Paula V. Serman tenho 26 anos, sou médica, formei-me em 2007 e faço residência de Clínica Médica no Hospital Geral de Bonsucesso. Sou a segunda mais velha de cinco irmãos. São mais 3 homens e 1 mulher. Carioca, adoro sair pra um sambinha, tomar um chopp e encontrar meus amigos; apesar da correria dos plantões e da residência. Dá pra imaginar que quebro a cabeça e me divido em mil (pelo menos, eu tento!) para estar com minha família e com as amigas e para cumprir os deveres da profissão... Além disso, participo de projetos sociais na área médica, encontros culturais e de formação humana. São muitas atividades, mas só sei viver assim, fazendo muitas coisas!
2.Como é a organização familiar e que papéis/responsabilidades são atribuídos a cada membro da sua família?
Na minha família, cada um tem uma personalidade diferente, assim como a formação acadêmica. Além de mim, temos um engenheiro, publicitário, estudante de arquitetura e “aspirante” à jornalista.
Quando éramos do colégio, ficávamos mais tempo em casa e fazíamos algumas ativid
ades domésticas, como lavar a louça, pendurar roupa no varal, limpar o quarto e, de vez em quando, nos aventurávamos a passar roupa. Muitas vezes, uma camisa acabava com uma charmosa estampa do ferro.
Hoje em dia, vivemo
s em um “entra e sai” que só acaba tarde da noite. Mas, procuramos manter as nossas coisas em ordem, como deixar as roupas e instrumentos de trabalho no lugar, ajudar na organização das refeições e cuidar de quem cuidava de nós, como meus avós.
3. Como é a relação entre vocês irmãos?
Nós brigávamos muito quando éramos menores. Éramos insuportáveis! Tudo era motivo para provocações e xingamentos, principalmente na hora da refeição (há hora melhor e mais engraçada pra fazer isso?). Minha mãe costumava dizer que concordava com aquela frase de Vinícius de Moraes que fala “aí a criançada toda chega e eu chego a achar Herodes natural...”. Acho que isso dá uma idéia da “paz” que reinava no lar...
Apesar disso, sempre fomos muito companheiros e cuidamos uns dos outro
s com muito carinho! Somos amigos! Admiramo-nos uns aos outros! Lembramos com muitas saudades da infância. Hoje, temos uma relação mais tranqüila e me orgulho de dizer que somos apoio um para os outros e para os meus pais. Vimos isso recentemente quando meu avô materno faleceu e, agora, estamos todos muito ansiosos, à espera do primeiro sobrinho (filho do mais velho, Daniel). Esse menino vai ser muito mimado!!!!
4.Seus amigos freqüentavam sua casa ou vice-versa?
Todos nós temos muitos amigos e sempre gostamos de tê-los por perto. Há épocas que essa casa está super povoada: tem campeonato de vídeo-game dos meninos, filmes para as meninas, risadas noturnas em alto e bom som daquela que ficou até tarde conversando com a amiga... O dono da pizzaria aqui perto enriquece às nossas custas...
Também fre
qüentei muito a casa das minhas amigas, mas sempre houve muito critério para isso, pois minha mãe exigia dados completos sobre a amiga, seus pais e o horário para ir e voltar era pré-determinado.
5.Como você dispunha de seu tempo fora do período escolar?
Voltava da escola para a casa da minha avó materna e lá almoçava, descansava e fazia os deveres de casa.
Sempre fiz muitas atividades extra - colégio: natação, balé, sapateado, nado sincronizado, curso de computador. Também participava de um Clubinho de Meninas no sábado, onde
aprendia artesanato, culinária e sobre virtudes humanas. Também ia muito pra um clube com meus pais, onde meus irmãos participavam de um campeonato de futebol e eu tinha muitas amigas.
6.Até que ponto você acha que os valores de sua família modificaram e/ou constituíram a pessoa que você é?
Os valores da minha família foram fundamentais, essenciais, importantíssimos na minha vida!!! Valores como honestidade, lealdade, sentido de compromisso, justiça, amor ao trabalho, valorização do ser humano e da vida, valor do sacrifício, espírito de serviço, amor a Deus... Acho que, se for enumerar, não vão caber aqui. Ajudam-me no meu relacionamento com os meus próprios familiares, amigos, colegas de trabalho, pacientes. São à base da formação do meu caráter.
7.Há regras, tradições ou tabus em sua família? Como eles são ou eram impostos?
Meus pais sempre foram muito firmes em suas convicções e valores e também nos criaram com esta firmeza. Mas, ao mesmo, tempo sempre tivemos um papo muito aberto, uma relação muito próxima. A regra básica é o respeito: no modo de falar (de preferência, sem gritos ou agressividade), ao usar objetos comuns (cada um tem sua vez para usar o PC, a TV) e ter cuidado com a manutenção destes; ajudar na ordem da casa, não fazer ou exigir que se façam gastos supérfluos.
Existem duas frases muito proferidas por mim mãe que não saem de nossas cabeças: “ Essa casa não é hotel” e “Caridade começa em casa”. Acho que daí dá pra saber algumas das regras básicas do meu doce lar (Rs)...
A penalidade imposta pelas infrações (rs) dependia do motivo, da circunstância..
. Às vezes, eram castigos como não ver TV, não ir ao clube... Outras vezes, era uma conversa dura e alguns dias de “gelo” (nessas horas, eu juro que preferia o castigo da TV!) e, algumas vezes, uma chinelada bem dada (e muitas vezes, merecida!).
8.O que você aprendeu com seus pais?
Fico pensando que crescemos achando que nossos pais são infalíveis, não podem fraquejar, ter dúvidas ou inseguranças. Com o tempo, vemos que não passam de seres humanos imperfeitos cuidando de outros seres humanos menores que eles, também imperfeitos. Mas, o “pulo do gato” é que eles nos amam tanto e querem tanto acertar, que Deus lhes dá alguns “poderes especiais” e, me atrevo a dizer que, mesmo quando erram, acertam! Foi isso que aprendi: a ser fiel aos meus valores e fazer o melhor que posso, com todas as minhas fraquezas e limitações. Pois, se o fizer com amor, acertarei.
9.Quais são as vantagens de ter uma família numerosa? E os pontos negativos?
A maior vantagem é que a casa fica sempre muito divertida, barulhenta e nunca me sinto sozinha!! Adoro a “confusão” da minha casa! Além disso, tenho amigos que ganhei “de ”bandeja”, minhas piadas estão sempre atualizadas pelos irmãos; aprendi a dividir, a esperar, a “segurar a língua”, a respeitar o espaço do outro. Também se aprende a “lutar” um pouquinho pela atenção dos pais e isso pode ser uma “competição” bem saudável!
A parte ruim é que você não tem muito sossego em casa, pois, como falei, ela está sempre cheia. De vez em quando, teu irmão está encapetado e resolve te importunar; muitas vezes, o PC está ocupado quando você tem que fazer aquele trabalho por dia seguinte... São probleminhas de
convivência que podem acontecer em qualquer família.
10.O que você planeja para sua futura família?
Gostaria muito de ter uma família numerosa também. Até porque acho que estranharia muito silêncio e calmaria... Graças a Deus, tenho uma excelente referência de família, um ótimo exemplo que quero imitar!
11.O que acha das adolescente grávidas? O que diria para elas?
A adolescência é uma fase de muitas transformações, formação de caráter, mudanças físicas, “ebulição hormonal” e “paixonites agudas”. Então, por ter tanta intensidade nesse período, muitas vezes, as adolescentes se deixam levar por sentimentos fugazes e inconsistentes e a gravidez pode ser fruto disso.
A adolescência
não é, nem de longe, o momento adequado para se engravidar, até porque uma criança deve ser concebida dentro de uma família constituída. Uma gravidez exige muita responsabilidade e fará a adolescente amadurecer precocemente, pulando etapas.
Então, para aquelas meninas que estão grávidas, digo-lhes que uma criança é SEMPRE uma bênção, um sorriso de Deus! E, mesmo não sendo um momento ideal, a gestação deve ser levada com muito amor e tranqüilidade, pois a situação vai se ajeitar com o tempo. Procurem criar seus filhos dentro do melhor ambiente familiar, aceitando ajuda de suas mães e dividindo as responsabilidades com o pai da criança, mesmo não existindo perspectiva de casamento.
Além disso, é bom não repetir o mesmo erro e ter os próximos filhos dentro de uma família já formada.

É importante que as adolescentes direcionem essa energia tão intensa dessa fase para o serviço aos outros, como trabalhos sociais; para a realização de projetos que desenvolvam a parte intelectual e cultural e tragam novas amizades, como um clube de leitura, um curso de idiomas; para a prática de esportes, etc. Enfim, ocupar a cabeça e o coração com coisas úteis.
12.Você preferiria ser filha(o) único ou prefere sua família como é?
Amo minha família e meus irmãos e não troco isso por nada. Não tive viagem pra Disney e nem festão de 15 anos com três vestidos e um príncipe. Não tenho nenhum trauma por isso. Tive (e tenho) tudo o que precisei: boa educação, comida boa, casa confortável, um bom ambiente e muitas alegrias. Nem sempre pude viajar para onde queria, na hora que queria, ou comprar roupas em lojas super caras ao meu bel prazer. E isso me ajudou a dar valor às coisas que tinha. ao trabalho dos meus pais e dos outros e a lutar para conseguir o que queria.
Com certeza, ter os meus irmãos é muito mais divertido do que ver o Mickey aos 15 anos (nada contra o Mickey, tá? E também adoro festas de 15 anos!!)
13.Seus pais influenciaram de alguma forma a escolha da sua profissão?
Não tem nenhum médico na família e meus pais nem imaginavam que eu pensava em fazer Medicina. Eles só se preocupavam com a minha formação profissional, que eu fosse feliz em qualquer área que escolhesse.
Mas, acredito que os pais, muitas vezes, fazem um papel de médico e o médico também banca o pai ou a mãe de alguns pacientes. Então, posso dizer que tive uma influência in
direta dos meus pais e que uso a minha experiência com os pacientes. E dá muito certo!
14.Alguma mensagem para os leitores.
Só vou citar uma frase que uma amiga da minha mãe disse após ela ter sido chamada carinhosamente de “louca” por ter 5 filhos: “Louca não. Cinco filhos são cinco bons motivos para mudar o mundo!” Precisamos de muitos bons motivos para mudar o nosso mundo!

6 comentários:

Márcia Tominaga disse...

Excelente artigo! Quem dera houvesse mais famílias numerosas hoje em dia! Acredito que as pessoas teriam mais atenção, cuidado e respeito umas com as outras.

N. Mazotte disse...

Paulinha é um doce, um exemplo e uma amiga muito especial! =) Parabéns pela entrevista e um dia terei uma família bem numerosa também, pois a sua já me serve de exemplo. Um beijo, Nati Cortez.

Liana Clara disse...

Pessoal, a Paula vai ser convidada pra convencer as mulheres alemãs a terem filhos! Depois desta entrevista tão bem humorada, tenho certeza de que muitas mulheres vão repensar seus conceitos de família. Beijos Paula

Anônimo disse...

A entrevista está excelente! Talvez, se tivéssemos famílias mais numerosas, a nossa sociedade seria melhor, mais solidária, mais pacífica, menos egoísta e materialista.

Viva as famílias numerosas!

João Felipe

Anônimo disse...

Oi, João Felipe!
Vi seu comentário e pensei que é muito bom saber que existem rapazes que pensem em formar famílias numerosas, pois muitas mulheres não sentem tanto apoio dos seus companheiros na hora de tomar essa decisão. Você não acha?

Paula Serman

Anônimo disse...

Paula,

Acho que os jovens têm de ver a alegria que é ter uma família. Acredito que, quando eles realmente descobrirem, surgirão sim muitas famílias numerosas. Entender que filhos são um presente, e não um peso como atualmente a sociedade tende a pensar.

João Felipe

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