Quem fugiu recentemente do calor da cidade para paragens mais amenas já deve ter observado árvores densament
e floridas em amarelo e roxo. Estas últimas são as Quaresmeiras, um insuspeito reconhecimento da natureza ao período litúrgico que vivemos. As primeiras julgo serem as Acácias (algum botânico me corrija, por favor, se estiver errada).A Igreja Católica denomina Quaresma aos quarenta dias que começam na Quarta- feira de Cinzas e terminam na Páscoa. São marcados pela penitência, pela oração c
ontrita, jejum e abstinência. As igrejas e os paramentos passam a se revestir da cor roxa, símbolo dessa contrição. É um tempo especial de preparação das nossas almas para a Ressurreição do Senhor, a passagem para a Vida, que celebraremos, no Domingo Pascal. Digo celebraremos porque "Cristo ressuscitou dentre os mortos, como primícias dos que morreram (...) (I Coríntios 15,20).Comemoramos desde já, com esperança, a cada Páscoa, também a nossa passagem para o paraíso.
A palavra "primícias" tem profundo significado, desde os tempos bíblicos. Jesus Cristo, como novo e perfeito Abel, oferece a Si mesmo ao Pai, por nós,por toda a humanidade, por cada ser criado. Ele é a oferenda dileta, e, a partir de então, São Paulo nos assegura que, se formos fiéis, seremos salvos.
Quaresma significa oportunidade de amadurecer para a vida espiritual. Não deve ser vista sob um ótica negativa, de privação por si só. Jejum e abstinência, e principalmente esmola e oração, são atos voluntários de amor ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Entregamos à Ssma. Trindade o q
O jejum não é um castigo, e sim um meio muito eficaz de afinar o espírito para conhecer e amar mais profundamente a Deus. Muitos fiéis muçulmanos, hindus e budistas o praticam com regularidade. Não é necessariamente de comida ou bebida, e é importante ensinar às crianças e aos jovens outras possibilidades: comprar menos, calar a palavra crítica; sorrir e ajudar de boa vontade (acredito, e comigo todas as mães, que deve alegrar muito ao Pai ver seus filhinhos e filhinhas tirarem a mesa e lavarem a louça por amor); trocar programas fúteis por outros úteis à alma e à amizade; enfim, que o amor amplie nossa imaginação para renovar nossas mortificações habituais!
A prática do jejum e da abstinência é obrigatória a todos os batizados (católicos), com idade entre 18 e 60 anos, na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa (da Paixão do Senhor), devendo ser ordenada de acordo com os limites da saúde de cada pessoa. A esmola, o desapego, não só do que nos sobra, mas também do que nos apraz, é outra forma que a Igreja recomenda de aproximarmo-nos do Mestre a caminho da cruz. Afinal, Ele quis se fazer tão pobre que "não tinha onde pousar a cabeça".

Precisamos sempre estar atentos, como destacou um trecho do evangelho de missa recente, a não ostentar nossa contrição e generosidade, ou divulgar nossas mortificações - “(...) quando deres esmola, que a tua mão direita não saiba o que faz a direita. (...) "quando orares, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar em pé, para que os vejam." Aliás, é bom repetir que se tratam de atos liv
res de amor. Amor não rima com mau - humor. Maridos, esposas, filhos e afins não são degraus para nossas práticas quaresmas. Ou melhor, são totalmente, se deles nos "aproveitarmos" para mortificar a vontade, para o sorriso esforçado, não forçado; como estímulos para o serviço alegre.Afinal, homens e mulheres não vivem se privando de "engordiets", para terem saúde ou estarem em forma? Ou suando e subjugando o corpo nas academias, por exigência de cânones estéticos espartanos? Que tal transformar essa tendência modernamente supliciante em salutar luta ascética? O prêmio vale à pena!

Um comentário:
Perfeita esta colocação sobre a quaresma. Ficou simpático e ao mesmo tempo correto tudo sobre este tempo de mortificação. A Terra esta pedindo socorro ao homem, pedindo que rezem mais e façam sacrifícios, pois estes acontecimentos atuais, como terremotos, tsunamis, tempestades, nevascas, estão mostrando que as coisas andam pretas e que o homem esta recebendo de volta todas as agressões que tem feito contra a natureza.
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