logo

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Células-tronco: o tempo é o senhor da razão

Transcrevo aqui um brilhante artigo do Dr Ives Gandra.

TENDÊNCIAS/DEBATES
Pela CNBB, defendi em 2008 no STF não matar embriões. Citei as células-tronco adultas, mais eficientes. Perdemos. O Prêmio Nobel mostra agora nossa razão.

Em 29 de maio de 2008, com grande cobertura da imprensa, aconteceu o início do julgamento da constitucionalidade da lei sobre a utilização de células embrionárias para experiências científicas.

Isso aconteceu por força da Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta pela Procuradoria-Geral da República, que entendia ser inconstitucional a destruição de seres humanos em sua forma embrionária.

Representando a CNBB, mostrei, da tribuna do STF, que tais experiências -um fantástico insucesso nestes 15 anos de pesquisas em todo o mundo- seriam desnecessárias.

Dizia isso pois, três meses antes, o médico japonês Shinya Yamanaka conseguira, reprogramando as células-tronco adultas (células do próprio organismo humano), obter os mesmos efeitos pluripotentes -ou seja, a possibilidade de dar origem a praticamente todos os tecidos do organismo humano.

Alegava-se que pluripotentes eram as células embrionárias. Elas seriam indispensáveis para o sucesso das experiências. Mas essas experiências, na verdade, foram sucessivamente mal sucedidas.

Dizia-se ainda, à época, que as células tronco adultas teriam efeitos apenas multipotentes, curando algumas doenças e não todas. Apenas as células embrionárias poderiam curar todas as doenças, quando fossem solucionados os problemas de rejeição e formação de teratomas (tumores).

Mostrei, na ocasião, que a Academia de Ciências do Vaticano -que possuía, então, 29 prêmios Nobel, no quadro de seus 80 acadêmicos- discutira a matéria, concluindo que o zigoto (primeira célula) é um ser humano, com todos os sinais que constituirão a sua integralidade, quando adulto.

Mostrei, inclusive, que, nos Estados Unidos, já ocorria a adoção de células embrionárias por casais sem filhos e que, na Alemanha, as experiências com células embrionárias não podiam ser feitas com material proveniente de mulheres alemãs, mas apenas com óvulos de mulheres de outros países.

Por fim, para não alongar este artigo, cercado por uma legião de cadeirantes, mostrei-lhes que as experiências com células embrionárias geravam tumores e rejeição nas experiências realizadas com animais.

Isso não acontecia, porém, nas experiências de reprogramação celular de Thompson e Yamanaka, por serem células do próprio organismo.

O certo é que, por seis votos a cinco, o Supremo Tribunal Federal optou pelas experiências com a destruição de seres humanos na sua forma embrionária, provocando inversão maior de recursos públicos nas experiências mal sucedidas (apesar das questões éticas envolvidas) e menor nos bem sucedidos experimentos com células adultas.

Felizmente, a Academia Sueca, ao outorgar o Prêmio Nobel a Yamanaka, sinalizou o que realmente se pode esperar das experiências com as células adultas reprogramadas para efeitos pluripotentes, que não geram rejeição, teratomas ou problemas éticos de qualquer natureza.

O prêmio à Yamanaka demonstra nitidamente que as experiências com as células embrionárias não sensibilizaram os acadêmicos suecos.

O tempo é sempre o senhor da verdade.

IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, 77, advogado, é professor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e da Escola Superior de Guerra

Opinião São Paulo, domingo, 21 de outubro de 2012

2 comentários:

Maria Teresa Serman disse...

Realmente brilhante em todos os sentidos, e o que mais brilha neste texto é a verdade que foi ignorada pelo tribunal. É preciso que se reverta a situação, para evitar o assassinato de crianças indefesas. Parabéns ao Dr.Gandra por mais essa atitude e pelo seu conhecimento mesclado à sabedoria.

Patricia disse...

Acrescentando ao que disse a Tetê, sobre essa noticia auspiciosa de que A VERDADE NÃO PODE SER IGNORADA, é de se esperar que o anúncio do prêmio Nobel não permaneça só no papel, como simples NOTÍCIA, e que REALMENTE SE FAÇA REVERTER NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL a INJUSTIÇA proclamada anteriormente como "verdade", para que brilhe a VERDADE.
Obrigada mais uma vez ao Dr.Ives Gandra!

Postar um comentário