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terça-feira, 26 de outubro de 2010

A festa de Babette

Por Rafael Carneiro Rocha

Baseado no conto de Karen Blixen, este filme dinamarquês de Gabriel Axel, lançado em 1987, foi ganhador do Oscar de filme estrangeiro e um dos 45 filmes recomendados pelo Vaticano, numa lista publicada em 1995 pelo Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais.

A história é assim: no fim do século XIX, duas velhas irmãs solteironas, filhas de um fundador de uma seita protestante, levam uma vida austera num vilarejo da Dinamarca. Na juventude delas, o pai nunca permitira que elas se casassem. Vários foram os pretendentes, mas eles eram barrados pelo velho, ou eram barrados pelas próprias moças ou, simplesmente, desistiam de ir adiante por causa da gravidade do ambiente religioso que as jovens viviam com o pai. Um dos pretendentes era um cantor lírico francês. Vários anos depois, esse cantor pediu que as irmãs abrigassem uma fugitiva da Comuna de Paris, a Babette do título. Babette trabalharia sem receber, em troca de moradia. Alguns anos depois, já adaptada à vida com as irmãs, Babette descobre que ganhou um prêmio na loteria. Secretamente, Babette investe todo o dinheiro num grande jantar em homenagem ao centenário do nascimento do pai das duas senhoras.

Uma boa história, sem dúvida. Mas, ao meu ver, o que faz o filme de Gabriel Axel formidável são algumas nuances de direção. A primeira delas é a excepcional condução do elenco. É notável como o registro de um ambiente tão puritano é feito sem qualquer tipo de caricatura. Claro que alguns momentos são bem engraçados, mas o diretor e o elenco nunca perdem o respeito pelos personagens. Outra nuance importante é a caracterização de Stéphane Audran como Babette. A atriz cria uma protagonista cujas ações, aparentemente misteriosas, resultam num belo gesto de sacrifício.

Babette é uma personagem que carrega a grande dor de ter perdido a família num massacre da Comuna de Paris, mas seus atos denotam a firmeza de uma vida esperançosa. Essa personagem preparará um jantar para uma comunidade puritana, de início desconfiada com a abundância de cores e sabores de sua cozinha, mas que, no fim das contas, se renderá diante da possibilidade de uma vida social mais alegre.

O sacrifício da católica Babette permite que uma série de personagens austeros e puritanos superem as limitações da espiritualidade grave e se abram para a experiência das grandes amizades, o princípio mais elevado da experiência comunitária.

2 comentários:

Maria Teresa disse...

O filme realmente é uma obra prima. E muito bem observado, Rafael, o que vc destacou, que, embora venham à tona aspectos um tanto surpreendentes da comunidade puritana, estes são tratados com delicadeza. A fotografia também é fundamental, e fantástica. Cada vez que revejo descubro novas nuances.

Rafael Carneiro disse...

É verdade, Maria Teresa. A festa de Babette é um daqueles filmes que não envelhecem nunca e que pode atingir diversos gostos. Recomendo sem reservas pra qualquer pessoa. Um abraço!

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