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terça-feira, 18 de maio de 2010

Pontualidade e compromisso

Por: Rafael Carneiro da Rocha

Eu valorizo a pontualidade, porque é sempre uma oportunidade de demonstrar respeito. Há quem diga que a pontualidade é a virtude dos entediados. De fato, para aqueles que não são muito calorosos, a pontualidade parece ser algum tipo de compensação espiritual. O sujeito é ranzinza e entediado, mas pelo menos é atencioso e pontual.

Pessoas ilustres e ocupantes de altos cargos, por exemplo, podem ser figuras carismáticas. Mas deixam muito a desejar no quesito pontualidade. Digo isto, porque, como jornalista, eu sei o sabor de vários chás de cadeira. Muitos profissionais da saúde também ignoram o que seja a pontualidade. Há algum tempo, ouvi de um dentista que não ser pontual é ensinado como algo de valor, porque trata-se de uma forma de "convencer" os clientes de que eles são tratados por profissionais compenetrados nos seus muitos afazeres.

De qualquer forma, parece que um certo desapego à pontualidade cartesiana faz bem. Nas nossas casas, pode ser ótimo para o cultivo de nosso bom humor que saibamos esperar aquela figura da família que demora um pouco mais para se arrumar. Se fizerem uma pesquisa científica, eu estou certo de que pessoas que não se importam com a falta de pontualidade dos outros vivem mais.

Para a santidade ou bem estar cotidianos, precisamos buscar a pontualidade e não se importar com a carência dela por parte de alguns. Jovens, por exemplo, passeiam muito. Combinar, "tal hora", de encontrar alguém ou uma turma é algo muito corriqueiro. Também é corriqueiro que alguém se atrase um pouco. Porém, eu penso que mesmo se houver atraso, a virtude da pontualidade pode ser exercida. Ligar para alguém ou mandar uma mensagem de celular comunicando o atraso pode ser, sim, um gesto de quem se preocupa com a pontualidade.

Mas, caso a pessoa esperada seja muito enrolada, eu penso que podemos pensar em prazos máximos de espera. Se me permitam a brincadeira, vou estipular algumas dicas para que exerçamos bem a paciência e o bom humor com a falta injustificada de pontualidade alheia.

Alguns prazos máximos de espera, sem que percamos a busca pela santidade, são:

- Demora de uma pessoa da família para se arrumar... Se for homem, 7 minutos de tolerância. Se for mulher, 31 minutos. Caso esses tempos se excedam, compete à pessoa que espera alguma manifestação de contrariedade diretamente proporcional ao tempo corrido.

- Demora de amigo(s) que não chega(m) para o local de encontro... Se for um programa que você relutou em aceitar, 11 minutos de tolerância. Se for um programa que foi de sua iniciativa, 42 minutos. No primeiro caso, compete à pessoa que espera ir embora e se justificar posteriormente, arredondando a espera para quinze minutos: "eu esperei 15 minutos e ninguém apareceu"... No segundo caso, compete à pessoa que espera se preparar para sair aos 40 minutos seguintes ao horário marcado, sendo aqueles dois minutos a mais, constituídos pela caminhada lenta rumo à saída do compromisso frustrado. De fato, 42 minutos de espera indicam que você esperou 40 minutos e gastou outros dois na esperança remota de que alguém ainda pudesse aparecer.

- Reunião de trabalho... Se foi marcada pelo(a) seu(sua) chefe, o tempo de espera, se não for justificado, coincide com o fim do expediente. E não cabe reclamação, infelizmente.

- Encontro com namorado (a)... Não me atrevo a dar pitacos.

- Espera por um profissional de saúde... Caso não se justifique a demora, 20 minutos. Caso se justifique, depende de seu estado de ânimo.

- Espera por um sacerdote... O tempo de espera coincide com a hora que, de fato, você não puder mais esperar. E não cabe reclamação.

4 comentários:

Liana Clara disse...

Eu me considero maníaca em pontualidade, uma virtude que atualmente passou a ser considerada defeito. As pessoas nos fazem esperar sem o menor constrangimento e nem se desculpam mais por isso.
Esta é uma coisa que me incomoda muito: Esperar!

É muito importante ensinar aos filhos esta virtude. E não só ensinar como vivê-la diariamente nas pequenas coisas do dia a dia.

Maria Teresa disse...

"- Demora de uma pessoa da família para se arrumar... Se for homem, 7 minutos de tolerância. Se for mulher, 31 minutos. Caso esses tempos se excedam, compete à pessoa que espera alguma manifestação de contrariedade diretamente proporcional ao tempo corrido"
Vou colar isto em um quadrinho na parede de ambos os quartos dos meus filhos e filhas! Mas acho que a "manifestação de contrariedade", no nível que vc sugere, vai me matar do coração! Não dá pra seguir essa sugestão.
A pontualidade decore da ordem, pois pressupõe se antecipar aos imprevistos que podem te atrasar. E vc está certíssimo qdo diz que ninguém se desculpa mais. Faz parte da falta de respeito que assola o país. Muito legal seu texto!

Rafael Carneiro disse...

Boas palavras...

Realmente, quando a virtude da pontualidade não importa mais para as pessoas, podemos dizer que vivemos numa cultura de desrespeito. É importante se desculpar, comunicar atrasos...

E como vcs bem apontaram, é importante insistir com os filhos sobre essa virtude.

Porém, no meu caso, que não tenho ninguém para educar sobre isto, rs, eu procuro não ouvir o diabinho da razão quando tenho de esperar.

Para os jovens ou todos aqueles que se angustiam com a falta de pontualidade alheia, eu recomendo o máximo possível de compreensão e desapego com as fraquezas alheias. Não mencionei à toa a imagem do diabinho da razão. É ele que acusa a todos e nos faz esquecer de nossas próprias fraquezas.

Abraços

Anônimo disse...

Se tem uma coisa que odeio é falta de pontualidade. Detesto esperar.

Quem acha que pontualidade é defeito é pq não está na pele de quem espera. Pra quem se atrasa realmente não tem problema nenhum, quem espera é que se fode.

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